Título: Discurso contundente
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2011, Política, p. 2/3

Os discursos dos líderes brasileiros na abertura dos debates da Assembleia Geral das Nações Unidas, nos últimos anos, apresentam um mesmo padrão, guardam várias semelhanças entre eles. A estreia da presidente Dilma Rousseff, a primeira mulher a abrir os debates na ONU, trouxe elementos diferentes à fala, com mais contundência, clareza e objetividade do que os discursos do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. É o que dizem especialistas ouvidos pelo Correio. As inovações, segundo eles, foram a defesa dos direitos das mulheres, com maior participação nas instâncias de decisões políticas; o reforço do controle de gastos governamentais; a maior credibilidade no plano internacional, com uma liderança menos controversa do que a exercida por Lula; e uma defesa mais contundente dos direitos humanos.

"Dilma fez um discurso mais limpo e honesto do que Lula. A presidente começou com o pé direito", afirma Estevão Martins, professor titular de história contemporânea da Universidade de Brasília (UnB). "Ela foi mais crítica e direta do que os antecessores. A principal mudança foi a defesa das questões femininas, que abre o discurso", reforça o cientista político Maurício Santoro, professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV).

A fala da presidente foi permeada por recados, principalmente ao cobrar uma ação mais enérgica dos países desenvolvidos na resolução da crise econômica e ao ressaltar a possibilidade de países emergentes ajudarem os países ricos em crise. "O Brasil passou a ter moral, estava na hora de aparecer. Esses países já não são emergentes, os outros é que estão decadentes", diz Estevão Martins. Segundo o professor da UnB, Dilma pode ter um protagonismo internacional maior do que Lula. "Mudou um pouco o vento: o Brasil tem mais chances de ser um interlocutor proativo. O discurso da presidente é mais realista nesse sentido."

Para o professor da FGV, o discurso repudiou "veementemente" a repressão a civis e descartou uma posição mais "apaziguadora" com governos autoritários, reforçando a defesa dos direitos humanos. Para isso, Dilma mencionou sua condição de "mulher que sofreu tortura no cárcere". "Ela criou um canal de comunicação e empatia com pessoas que vivem situação semelhante em países como a Líbia e a Síria", diz Maurício Santoro.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 22/09/2011 02:16