O globo, n. 30.008, 04/10/2015. País, p. 4

 

A favor do clima

 

Tecnologia produzida nas universidades pode ajudar políticas públicas

Uma das principais alternativas para enfrentar os efeitos do aquecimento global é a inovação tecnológica, que poderá proporcionar uma transição para uma economia de baixo carbono, aspecto importante na solução do impacto climático e no desenvolvimento sustentável. O atual momento requer uma mudança na trajetória de desenvolvimento, exigindo o uso de soluções tecnológicas e práticas com menor emissão de carbono. E instituições acadêmicas podem ser parceiras fundamentais do setor público, responsável pela definição de políticas de desenvolvimento nacional. O assunto deveria ocupar grande espaço na agenda de todas as esferas de governos, instituições de pesquisa e empresas privadas.

Muitos países já perceberam a relevância do tema. Diversos polos tecnológicos e de inovação, assim como centros de pesquisa, recebem apoio dos governos nacionais, subnacionais/ regionais e locais. No setor privado, são inúmeros agentes financeiros que aportam capital de risco — recurso que é fundamental para uma pequena empresa começar a operar —, fundos de investimentos que atuam como “anjos”, compartilhando patentes, agregando maior valor às ideias iniciais, se tornando sócios, dando escala à inovação, trazendo os produtos ou serviços inovadores para o mercado. Dessa forma, ainda recuperam o capital inicialmente investido. São várias as oportunidades de atuação conjunta.

Os avanços científicos, quando aplicados na prática, promovem diversos benefícios, que vão desde a maior geração de riqueza até melhoria na qualidade de vida. É nessa conjuntura que a Participação PúblicoPrivada-Acadêmica (PPPA) assume relevância, uma vez que extrai de cada participante o seu melhor. A tecnologia desenvolvida dentro das universidades pode auxiliar no direcionamento das políticas públicas e viabilizar a sua execução. Já a iniciativa privada apontaria novas opções para utilização do mercado. Na UFRJ, parte desse processo já ocorre. O Fundo Verde da universidade pode ser considerado um exemplo de parceria público-acadêmica, já que utiliza o campus da Cidade Universitária como laboratório para desenvolver e avaliar o desempenho de novas tecnologias em projetos sustentáveis, com recursos oriundos da isenção do ICMS estadual. O setor privado poderá analisar o desempenho das alternativas no campus e identificar o potencial de adaptação no mercado.

Só será possível fazer frente aos desafios do século XXI com sucesso se conseguirmos migrar para caminhos de desenvolvimento com menor uso de recursos naturais, baixo nível de emissão de poluentes e mais adaptados às mudanças climáticas. Não precisamos aguardar as Convenções do Clima para decidirmos qual estratégia adotar. Mentes inovadoras pensam que a melhor forma de prever o futuro é inventálo. Quem estiver à frente da criação de um novo tempo terá benefícios, seja ele público, privado ou acadêmico. Suzana Kahn é coordenadora executiva do Fundo Verde da UFRJ e professora da Coppe/UFRJ