O xeque do PMDB

 

GLAUBER BRAGA 

O globo, n. 29994, 20//09/2015. Opinião, p. 19

 

Aluz do dia intimida aqueles que se movem por interesses ilegítimos. É assim que temos visto o “não debate” sobre a possibilidade de impeachment presidencial: ocultos ou semiocultos, os grandes incentivadores sopram o tema para a opinião pública — boa parte desgostosa com o governo, segundo pesquisas —, mas não iluminam um debate que é muito mais profundo.

Façamos a singela pergunta, bastante eficiente para jogar luz sobre a questão: quem ganha de fato com o impeachment?

A essa pergunta devem ser acrescidas outras, num importante descortinar do quadro político, econômico e social: se o pedido de impeachment é “pelo povo” e pelo país, o que seus promotores terão feito “pelo povo” antes do eventual impeachment? Quais têm sido e quais serão suas motivações e pautas de “estadistas”? Num país em que a elite política se acostumou a aventar derrubadas de presidentes sempre depois de estimulado o clima de instabilidade, é preciso fazer a contundente questão: que efeito teria para o país se tanto esforço fosse dedicado a uma pauta positiva, afirmativa ( que não se confunde com apoio ao governo)?

Vemos agora mesmo, por exemplo, a mobilização na Câmara dos Deputados para engrossar o caldo do impeachment. Assim como, há semanas, tivemos esforços coordenados pela presidência da Casa para se votar e aprovar contas presidenciais de mandatos anteriores — tentativa de acelerar o processo. Em todos os movimentos, vemos o presidente, Eduardo Cunha, do PMDB, orquestrando sua “bancada” por motivações individuais e sem qualquer cacoete de diálogo com a sociedade, sem zelo com a sobriedade que o cargo exige.

À luz do comportamento voraz de Cunha, tudo isso não chega a ser surpresa. Mas espanta o silêncio gritante de dois importantes agentes políticos, o PSDB e o PT. Silêncios diversos entre si. Os tucanos, por se portarem como arautos da moralidade, ao mesmo tempo em que se calam diante de um presidente da Câmara que usa suas prerrogativas para dificultar as investigações contra sua pessoa, no âmbito da Lava-Jato. Já o PT estarrece qualquer observador atento por sua síndrome de Estocolmo perante Cunha e o PMDB, aceitando inerte e até subserviente todo tipo de chantagem e traição.

Outros cardeais peemedebistas também fizeram das suas, ora acirrando o clima de deterioração, ora em armistício com o governo; sem, com isso, contribuir com algo para melhorar a situação concreta do país. Como se a variação de comportamento coincidisse com as possibilidades de impeachment: a via eminentemente política — o processo na Câmara, em que o sucessor de Dilma seria o vicepresidente, Michel Temer —e a via da Justiça Eleitoral, caso em que a impugnação da chapa Dilma-Temer elevaria como presidente do Brasil Eduardo Cunha, ainda que temporariamente. Noventa dias de Cunha significariam 90 anos de retrocesso para o Brasil.

Atentem: em qualquer dos casos, quem ganha é… o PMDB!

Eis o xeque, movimento de xadrez que nos ensina a cúpula deste partido, que nasceu e se agigantou nas lutas democráticas do país, como a campanha Diretas Já e a promulgação da Constituição Cidadã, e que hoje abriga os vencedores a priori das disputas pelo poder. Como têm sido vencedores em todos os últimos governos bem ou mal avaliados. Este PMDB, desta cúpula de Eduardos Cunhas e Renans — que não têm demonstrado apreço a valores democráticos.