Lava-Jato: Supremo abre inquérito para investigar Júlio Delgado

 

CAROLINA BRÍGIDO, CLEIDE CARVALHO E TIAGO DANTAS

O globo, n. 29993, 19//09/2015. País, p. 6

 

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito para investigar o deputado Júlio Delgado (PSBMG), suspeito de integrar o esquema desvendado pela Operação Lava-Jato. A investigação foi aberta no dia 3, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os indícios surgiram a partir dos depoimentos do empreiteiro Ricardo Pessoa, em acordo de delação premiada.

O inquérito estava oculto, o mais alto grau de sigilo no STF. Agora, a investigação é considerada sigilosa, mas pode ser visualizado no andamento processual. O segredo é necessário porque os depoimentos de Pessoa estão sob sigilo. Ele é dono da construtora UTC e, nas investigações, é apontado como o chefe do cartel que atuava junto à Petrobras.

Na última quarta-feira, Teori enviou o caso para a Polícia Federal, que vai realizar diligências. Entre as medidas, podem estar quebras de sigilo ou interceptações telefônicas. Delgado passou a ser tratado publicamente como suposto beneficiário dos desvios em junho, quando a revista “Veja” publicou uma lista com 18 políticos citados por Pessoa. Segundo a reportagem, Pessoa repassou R$ 150 mil ao deputado em doações de campanha, dinheiro desviado da estatal.

Na última terça-feira, Delgado disse que as declarações do empreiteiro eram infundadas. Afirmou que encontrou Pessoa uma vez e que o dinheiro foi doado de forma lícita para o diretório do PSB em Minas:

— Não recebi um centavo sequer desses recursos, todas as transferências estão declaradas à Justiça Eleitoral e disponíveis à consulta pública.

EX-MINISTRO JÁ VIROU RÉU

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou pedido de habeas corpus ao ex-ministro José Dirceu, preso na Lava-Jato. O pedido foi apresentado na última terçafeira. Os advogados argumentaram que a decisão que decretou a prisão apoiava-se em “ilações feitas por terceiros” e em fatos não comprovados. E afirmaram que Dirceu tem buscado colaborar com a Justiça e que não atua mais como consultor. No mesmo dia, o ex-ministro virou réu em ação penal da Lava-Jato.

Na decisão, o desembargador João Pedro Gebran Neto afirmou que “as afirmações foram confrontadas, tendo os respectivos movimentos financeiros apontados sido identificados documentalmente pelas diligências judiciais”. Ressaltou ainda que Dirceu se beneficiou com valores retirados da Petrobras, provenientes de superfaturamento de contratos da estatal. E escreveu ainda que “sequer a instauração de ação penal perante o STF, e posterior condenação, inibiu o paciente e os demais envolvidos de seguirem praticando crimes”.

Dirceu é acusado de receber R$ 11,8 milhões em propinas de empresas que tiveram contrato com a Petrobras.