Armínio afirma que Estado está ‘semiquebrado e agigantado’

 

GABRIELA VALENTE, MARIA LIMA E GERALDA DOCA

O globo, n. 29992, 18//09/2015. País, p. 10

 

Em debate organizado pelo PSDB no Senado para discutir propostas para enfrentar a crise econômica, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirmou que o Estado brasileiro está “semiquebrado”, e defendeu que o Congresso comece do zero a fazer um novo orçamento da União sem as indexações que aumentam os gastos automaticamente.

Junto a outros economistas, ele defendeu o ajuste fiscal proposto no início do ano pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que não avançou por questões políticas. Armínio afirmou que, sem a arrumação das contas públicas, o custo que será pago pela sociedade brasileira será o dobro do que custaria o ajuste.

— Tem de ser um ajuste bem-feito (...) ou vamos mergulhar no abismo de todo regime populista que existe no planeta — disse o economista, defendendo que o Brasil tem de repensar o tamanho do Estado: — É um Estado agigantado para um país de renda média. Um Estado que defende interesses partidários, ineficaz em entregar os serviços que a sociedade precisa — frisou Armínio, que criticou a proposta de recriação da CPMF por ser, segundo ele, um imposto de “péssima qualidade”.

Já seu antecessor no comando do BC durante o governo Fernando Henrique, Gustavo Franco, defendeu um programa de redução da dívida pública para melhorar o quadro fiscal brasileiro. Ele alertou para o alto nível de endividamento com vencimento próximo. Somente neste ano, o Brasil pagará 8% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços produzidos no país em um ano). Ele frisou que 17% da dívida pública brasileira vence no curto prazo.

— Por muito menos que isso, a Grécia quebrou. A Grécia quebrou com 13% da dívida vencendo. Nós aqui com 17%. E vamos enrolando o assunto da dívida. A situação é crítica e uma das piores do mundo.

Para o economista Samuel Pessoa, o Congresso deveria mexer em “vacas sagradas” como a política de valorização do salário mínimo. Já o senador José Serra disse que o cofre da União é atacado por todos os lados:

— O que atrasa o Brasil é o Fuce (Frente Única contra o Erário), que tem representantes em todos os partidos. O grande reinado do Fuce foi na Constituinte, e nós ajudamos um pouco a combater. Mas reincidiu como nunca nos últimos anos.