Dilma propõe reduzir as emissões em 43% até 2030

Sergio Lamucci e Juliana Ennes 

28/09/2015

O Brasil se comprometeu em reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, na comparação com os níveis de 2005, anunciou ontem a presidente Dilma Rousseff. "Podem ficar certos de que a ambição continuará a pautar nossas ações", afirmou ela, em Nova York, ao discursar na Cúpula para a Adoção da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 da Organização das Nações Unidas (ONU).

Dilma afirmou que o Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento a assumir uma meta absoluta de redução de emissões. "Nós temos uma das maiores populações e PIB do mundo e nossas metas são tão ou mais ambiciosas que aquelas dos países desenvolvidos." Os compromissos assumidos pelo Brasil serão apresentados em dezembro na Cúpula do Clima, em Paris. "O Brasil tem feito grande esforço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, sem comprometer nosso desenvolvimento social e econômico", disse Dilma.

Para chegar às metas, o país pretende ter 45% de renováveis na matriz energética, incluindo energia hidrelétrica, bem acima da média global de 13%, segundo a presidente. Em solar, eólica, biomassa e etanol, o percentual ficaria em 32%. O compromisso também prevê um aumento de pelo menos 23% de renováveis na geração de energia elétrica. O cálculo exclui hidrelétricas e considera apenas solar, eólica, biomassa e etanol.

No uso da terra, a meta brasileira é zerar o desmatamento ilegal, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares e restaurar, adicionalmente, 15 milhões de hectares em pastagens degradadas.

Em entrevista depois do anúncio, a presidente disse que existem "todas as condições" para chegar ao desmatamento ilegal zero até 2030, apesar das dificuldades de fiscalização num país com a extensão territorial do Brasil. "Nós fizemos um esforço grande e conseguimos uma diminuição expressiva do desmatamento, de 82% [de 2004 a 2014]", disse a presidente.

Segundo a presidente, o Brasil pode cumprir mais rapidamente as metas de redução de emissões de gases do efeito estufa ou até ampliá-las, se houver a ajuda de recursos externos. "O Brasil tem várias oportunidades de financiamento", afirmou, citando o caso da Fundo Amazônia, bancado por países desenvolvidos. Outra modalidade de financiamento é o sistema de negociação de créditos de carbono, conhecido como "cap-and-trade", destacou Dilma. Ela lembrou que as reduções de emissões feitas pelo Brasil até o momento foram feitas com recursos próprios, "até porque não havia outros recursos que pudessem ser utilizados para fazer isso".

Dilma reafirmou que o Brasil não abrirá mão de explorar todo o potencial do país de geração de energia elétrica a partir de hidrelétricas, mesmo diante da existência de falhas e de dificuldades na implementação de projetos. "Temos feito imenso esforço para compatibilizar a geração de energia com a preservação ambiental", disse a presidente. "Tem falha? Ah, não tenha dúvida que tem. Mas o fato de ter falhas não significa que a gente vá destruir esse processo. Agora, não se iluda. Tem falhas em qualquer construção de qualquer projeto." A presidente deu essas declarações ao ser questionada sobre problemas nas obras de hidrelétricas como a de Belo Monte, e se reconhecia falhas nesses empreendimentos.

Na entrevista, a presidente defendeu a reforma e ampliação do Conselho de Segurança da ONU, como mecanismo importante para construir consensos e evitar guerras. Esse será um dos pontos de destaque no seu discurso de hoje, na assembleia geral da organização.

Segundo ela, a ONU e o conselho precisam lidar com "situações bastante graves e novas", como os conflitos regionais armados que levam ao deslocamento de pessoas. Recorreu à imagem da Caixa de Pandora, ao criticar intervenções armadas que levam a resultados indesejados, como o surgimento de movimentos como o Estado Islâmico, cuja ação violenta exige que sejam reprimidos. Mas Dilma afirmou que não se tem visto ma solução muito efetiva através de intervenções armadas. "Isso no que diz respeito ao Iraque, à Líbia e a Síria."

No sábado, Dilma fez o único comentário sobre a situação da economia brasileira na viagem a Nova York. Ao falar sobre a escalada da moeda americana, disse que o governo está "extremamente preocupado" porque há empresas endividadas em dólar, depois de ressaltar que o Brasil tem reservas suficientes para que não haja problemas devido ao comportamento do câmbio. "O governo terá uma posição bem clara e firme como foi essa que o BC teve ao longo do fim da semana."

Valor econômico, v. 16 , n. 3850, 28/09/2015. Brasil, p. A6