O globo, n.30.005, 01/10/2015. País, p. 5

 

Dilma cede e amplia o poder do PMDB e do ex- presidente Lula

De olho na governabilidade, presidente ainda precisa resolver impasses

Para garantir a governabilidade, tentar conter o avanço de pedidos de impeachment e aprovar no Congresso as medidas de ajuste fiscal, a presidente Dilma decidiu ceder ao PMDB e ao ex- presidente Lula na reforma ministerial, além de reduzir o espaço do PT. Ontem, ela demitiu Renato Janine Ribeiro da Educação, para onde irá o hoje chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, criticado por aliados e por Lula. Para a Casa Civil foi convidado o petista Jaques Wagner, hoje na Defesa. O PMDB deve ficar com sete ministérios. Entre cortes e fusões, 13 ministérios devem deixar de existir no formato atual. - BRASÍLIA- Em busca de uma estabilidade mínima para governar, a presidente Dilma Rousseff cedeu a pressões políticas e partidárias e deve anunciar hoje ou amanhã sua reforma ministerial com mudanças profundas no governo. Esperada inicialmente como uma mudança branda na Esplanada — que teria como principal trunfo a redução de 10 ministérios —, a reforma passou a ser tratada no Palácio do Planalto como uma “refundação” das relações com os aliados. A presidente ampliou o poder do PMDB, cedeu ao ex- presidente Lula que liderou uma cruzada pelo afastamento de Aloizio Mercadante da Casa Civil, e enxugou a representação da base social do PT.

O objetivo da série de mudanças, que envolve um terço dos atuais ministros, é garantir segurança no Congresso, onde nos próximos meses o governo precisa aprovar o segundo pacote de ajuste fiscal — com cortes de despesas e aumento e criação de impostos —, e conter o avanço dos pedidos de impeachment que tramitam na Câmara.

Mais uma vez, impasses internos no PMDB e no PT travaram algumas definições da reforma. Até ontem à noite, a pasta de Portos ainda era disputada pela bancada peemedebista na Câmara e pelo grupo do vice- presidente Michel Temer, que quer colocar o ministro da Pesca, Helder Barbalho, no cargo. No PT, há dúvida sobre o destino do ministro da Secretaria- Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e sobre quais petistas comandarão os dois novos ministérios que surgirão de fusões de pastas sociais.

Com o impasse interno entre peemedebistas, a solução curinga encontrada pelo Planalto foi colocar como opção para o PMDB o Ministério de Ciência e Tecnologia. Temer chegou a ser sondado sobre uma eventual mudança de Eliseu Padilha ( Aviação Civil) para a pasta, mas a negociação não prosperou.

SUPERMINISTÉRIOS

Independentemente de a bancada ficar com Portos ou Ciência e Tecnologia, o nome mais cotado até a noite de ontem era o de Celso Pansera ( PMDB- RJ), ligado à família Picciani, ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), e ao governador do Rio, Luiz Fernando Pezão. Para a Saúde, Marcelo Castro ( PMDB- PI) passou a ser o candidato mais forte, depois que chegou ao conhecimento da presidente que outro indicado, Manoel Júnior ( PMDB- PB), havia dado declarações aconselhandoa a renunciar ao cargo. Até ontem, entre fusões e cortes, 13 ministérios deixariam de existir em seu formato atual.

Há indefinição quanto aos nomes de dois novos superministérios que ficarão com o PT. O martelo será batido hoje pela manhã, em conversa entre Dilma e o expresidente Lula, no Palácio da Alvorada. As secretarias de Mulheres, Direitos Humanos e Igualdade Racial virarão um único ministério. Com a resistência ao nome de Rossetto pelos movimentos ligados a estas áreas, cresceu ontem a possibilidade da deputada Benedita da Silva ( PT- RJ) ocupar a pasta. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, também está no páreo para o posto. Os ministérios do Trabalho, da Previdência e do Desenvolvimento Social também se tornarão um só, e o nome mais forte é do ministro da Previdência, Carlos Gabas.

— A presidente decidiu enfrentar essa briga com as centrais, que não queriam a fusão. Mas para evitar mais problemas, a ideia é deixar alguém da área sindical — disse um interlocutor da presidente ao GLOBO.

Apesar da pressão dos funcionários da Controladoria- Geral da União, a presidente deverá retirar o status de ministério e vincular o órgão à Casa Civil. Dilma também definiu que a nova Secretaria de Governo, a ser comandada pelo petista Ricardo Berzoini, atual ministro das Comunicações, vai englobar a Secretaria das Micro e Pequenas Empresas, o Gabinete de Segurança Institucional, a Secretaria de Relações Institucionais e a Secretaria Geral, todos atualmente com status de ministério. A principal tarefa de Berzoini será a articulação política, função já exercida por ele no primeiro mandato de Dilma.

A relação do governo com os movimentos sociais, hoje de responsabilidade da Secretaria- Geral, será transferida para ministério que vai englobar as secretarias de Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.

WAGNER: TROCA CONTEMPLA LULA

Ontem pela manhã, Dilma avisou ao vice Michel Temer sobre a substituição de Mercadante por Jaques Wagner. Desde o ano passado há sistemática pressão para que isso ocorra. No começo deste ano, quando Mercadante integrou a campanha contra Cunha à Presidência da Câmara, os peemedebistas voltaram à carga, assim como Lula que percebeu que o movimento era um tiro no pé do governo. Wagner sempre foi considerado dentro e fora do PT habilidoso e conciliador. O clima entre políticos dos partidos aliados quando se soube da mudança era de expectativa de uma melhora nas relações entre Congresso e Planalto.