Alerta no comércio

 

ALVARO GRIBEL E MARCELO LOUREIRO

O globo, n. 29991, 17//09/2015. Economia, p. 24

 

As vendas do varejo caíram pelo sexto mês seguido em julho e não há sinais de retomada do consumo. As empresas do setor enfrentam uma combinação perigosa: redução nas compras pelas famílias, ao mesmo tempo em que os bancos encarecem o crédito para capital de giro, e os fornecedores tentam repassar a alta dos custos. A proposta de recriar a CPMF vem no pior momento.

Oconsultor Enéas Pestana, que assumiu há poucos meses o grupo Máquina de Vendas, já havia adiantado à coluna, em janeiro, que este seria um ano difícil. A recomendação para o empresário continua sendo preservar o fluxo de caixa, e isso explica por que as liquidações em lojas e shoppings continuam mesmo com a proximidade do Natal. O crédito para financiar o capital de giro ficou mais caro, com a alta da Selic, e o lojista que precisar de empréstimo pode rapidamente entrar em um círculo vicioso que leve à concordata:

— O empresário tem que manter o caixa saudável, para não ter que tomar crédito, e cortar o que puder, mas sem se descuidar do serviço. Por isso, demitir pode ser perigoso, porque pode espantar clientes com a perda de qualidade no atendimento.

A ideia de recriar a CPMF para financiar o déficit da Previdência era tudo que o varejo não precisava ouvir neste momento de forte retração do consumo. Pestana explica que o comércio tem alto faturamento, mas baixa margem de lucro. O imposto vai incidir sobre as vendas e também sobre os pedidos aos fornecedores. Ou seja, a asfixia financeira que muitas empresas já enfrentam ficará ainda mais forte. Outra fonte de preocupação é a perda do grau de investimento, que indiretamente reduz a confiança e atrasa a recuperação.

— Já fui consultado por investidores estrangeiros que começam a achar que há ativos baratos no Brasil, inclusive na área varejista. Mas, com a perda do grau de investimento, todos vão aguardar um pouco mais para ver o que vai acontecer. Avalio que o setor vá realmente se recuperar no segundo semestre de 2017 — disse.

Os dados do comércio são preocupantes porque o setor é um grande empregador. Este ano, já foram fechados 234 mil postos de trabalho com carteira assinada na área, segundo dados do Caged. A estimativa do Itaú Unibanco é que as vendas sejam novamente negativas em agosto.