VINICIUS SASSINE
O globo, n. 29991, 17//09/2015. País, p. 9
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou ontem à Polícia Federal (PF) a abertura de inquérito para investigar denúncias de ameaças ao ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes. Reportagem do GLOBO publicada ontem revelou que o ministro do TCU, relator das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff, pediu um reforço na segurança pessoal em Brasília após afirmar que recebeu ameaças por e-mail. Após a divulgação, o próprio Cardozo tomou a iniciativa de ligar para Nardes e comunicou que a PF entraria no caso.
Nardes passou a ser escoltado por um carro da empresa de segurança contratada pelo TCU desde a noite de anteontem. Dois seguranças ocupam o carro, que acompanha o veículo usado por Nardes nos trajetos para o tribunal e para casa. Um terceiro segurança fica na residência do ministro em Brasília. O serviço foi solicitado pelo relator à presidência do TCU, que colocou o reforço à disposição do ministro. Os trajetos de Nardes foram escoltados ao longo de todo o dia de ontem.
O gabinete do ministro também pediu ao governo do Rio um reforço da segurança no estado. Ele tem compromissos oficiais na cidade hoje e amanhã. O mesmo foi feito em relação ao governo do Rio Grande do Sul, com pedido de escolta na próxima semana.
Na conversa que tiveram, Cardozo disse a Nardes que, caso considerasse necessário, poderia pedir formalmente ao Ministério da Justiça proteção da PF. O ministro do TCU afirmou ao GLOBO que vai oficiar a polícia e pedir reforço na segurança, especialmente nos deslocamentos fora de Brasília.
— Conversei com o ministro sobre a possibilidade de proteção aos estados onde viajo, e ele se colocou à disposição. Aqui (em Brasília) eu continuo com a escolta do tribunal e, em locais que eu considero mais difíceis, até porque o tribunal não tem estrutura em todo o Brasil, vou solicitar segurança à Polícia Militar ou à Polícia Rodoviária — disse Nardes após deixar ontem o TCU, seguido da escolta.
Em meio a 13 mil mensagens remetidas ao e-mail institucional do relator, referentes basicamente às contas da presidente Dilma, o ministro contou ter identificado algumas com a ameaça: “Vamos acabar com você.” Ele tratou do assunto com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, e com uma representante da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Nardes afirmou que pretende encaminhar os e-mails à PF.
O ministro também relatou a ocorrência de “intimidação e constrangimento” à equipe técnica responsável por fazer a análise que vai subsidiar seu voto. Ontem, ele disse que outros ministros relataram ter recebido emails com tom de ameaça.
Nardes já manifestou a intenção de votar pela rejeição das contas da presidente. A principal acusação é a prática das chamadas “pedaladas fiscais”.