Medidas imediatistas

 

GERALDA DOCA

Colaborou Gabriela Valente

 

Na visão de especialistas, o pacote de medidas de ajuste fiscal anunciado pelo governo na segunda- feira é imediatista e não ataca problemas estruturais, como o engessamento do Orçamento da União com despesas obrigatórias e a necessidade de uma reforma na Previdência, para equilibrar despesas e receitas. Economistas destacam que as ações propostas são concentradas no aumento de receitas, principalmente na volta da CPMF. Mas há também o reconhecimento, entre os analistas, de que o plano apresentado foi o possível, diante do quadro político.

Especialistas defendem medidas estruturantes, como a fixação de uma idade mínima para aposentadoria no INSS; mudanças da fórmula de cálculo da pensão por morte, que deixaria de ser integral; e a desvinculação dos benefícios previdenciários e assistenciais do salário mínimo. Deixar essas questões para serem discutidas no fórum criado para debater a reforma da Previdência, que tem a participação de representantes do governo e de sindicalistas, demonstra a falta de disposição para fazer as reformas necessárias, avaliam.

— A qualidade do ajuste é ruim, porque o grosso do pacote é aumento de impostos. O corte de despesas é pequeno e reflete rigidez do gasto orçamentário no Brasil. É ruim porque é muito dependente do Congresso. Se a gente tivesse um Executivo com mais força política, uma presidente mais bem avaliada, mas não é assim. O pacote está centrado na volta da CPMF e dificilmente vai passar no Congresso — avaliou a professora do Instituto de Economia da UFRJ Margarida Gutierrez.

Para o economista- chefe da Austin Rating, Alex Agostini, faltou um plano de venda de ativos:

— Não precisava vestir a camisa da privatização, mas a da concessão. O que parece é que o governo foi pelo caminho mais difícil. Não sei se foi estratégia ou um ato de desespero. A CPMF é dinheiro na boca do caixa, mas em um ajuste mais longo, a venda de ativos deveria fazer parte.

‘ FÓRUM É DEMAGOGIA TOTAL’

Já para o economista Fábio Silva, membro da Conselho Federal de Economia ( Cofecon), que também defende a necessidade de adoção de medidas de longo prazo, o Executivo fez o que era possível no momento e tem chance de aprovar a CMPF no Congresso, com apoio dos governadores, que querem parte dos recursos arrecadados:

— No Brasil, a gente sabe que muitas coisas acontecem quando a gente está com a corda no pescoço. É na dificuldade extrema que se consegue algum acordo sobre medidas que são necessárias. A alíquota proposta para a CPMF ( de 0,20%) poderia subir para que seja compartilhada. Você tem a questão da circunstância. Muitos estados estão em dificuldade financeira. O governo tem como conseguir apoio de mais gente.

Para o economista Raul Velloso, os cortes foram superficiais e frágeis. Ele avalia que a equipe econômica deveria ter aproveitado para anunciar as reformas na Previdência.

— O governo deveria ter apresentado as medidas e começado a discussão no Congresso imediatamente.

Margarida Gutierrez engrossa o coro:

— Essa coisa de ir para o fórum é demagogia total.