Título: Fazenda pede corte de juros
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2011, Economia, p. 17

Documento da pasta afirma que piora global abre espaço para nova redução da Selic. Inflação e desvalorização do real, porém, devem fechar as portas à queda da taxa, avaliam os economistas.

Apesar de a inflação no Brasil continuar dando sinais de pleno vigor, o Ministério da Fazenda defendeu ontem mais reduções na taxa básica de juros (Selic). Documento elaborado pela equipe de economistas da pasta garantiu que há condições para novos cortes, como a realizada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ¿ de 12,5% para 12% ao ano ¿ caso o cenário externo piore. As eventuais tesouradas adicionais serão úteis, segundo o órgão, para evitar uma desaceleração muito agressiva da atividade. O mesmo argumento já foi utilizado em outras ocasiões pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

"Há espaço para a política monetária agir. Se houver continuidade na piora da crise global, o Banco Central está em condições de atuar com uma política monetária expansionista (reduzir a taxa), respondendo a uma possível virada na economia", detalhou o documento.

Para parte dos economistas, porém, o avanço do dólar em relação ao real torna mais difícil a realização de novos cortes. "Depois dessa esticada, não vai ser fácil. As pressões sobre os índices de preços tendem a subir", considerou Ricardo Pinto Nogueira, diretor de operações da corretora Souza Barros. Além da guinada na cotação da moeda norte-americana, outro argumento utilizado pelo Banco Central para justificar os cortes de juros ¿ e reverberado pela Fazenda ¿ é de que a inflação já teria atingido o seu pico em agosto.

O discurso, no entanto, começou a ser desmontado na terça-feira pela prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo ¿ 15 (IPCA-15). Ao contrário do que esperava a equipe econômica, a carestia acumulada nos últimos 12 meses saltou para 7,33%, aumentando as chances de que, em setembro, a escalada continue.

O economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, destacou que diante do cenário, novas reduções podem não ocorrer. "Não há acomodação alguma (de preços) que abra espaço para baixa dos juros", ponderou. Na avaliação de Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção, sobra confiança no governo. "Ele está colocando muitas fichas no agravamento da crise externa. Pouparia críticas, se tivesse esperado um pouco mais e analisado melhor o cenário", comentou.

Média favorável Para fundamentar a defesa de uma taxa básica menor, o Ministério da Fazenda lembrou, em seu relatório, que no auge da crise financeira, entre 2008 e 2009, os juros médios no Brasil eram de 11,3% ao ano. Em 2010 caíram para 9,9% ao ano. Essa média se encontra, atualmente, em 11,8% ao ano. A previsão para a inflação medida pelo IPCA em 2011 é de 5,8%. Em 2012, o patamar cairá para 4,8%, segundo a pasta.