Correio braziliense, n. 19092, 03/09/2015. Política, p. 2

Suborno de mais de R$ 12 mi. E contando...

 

João Valadares
 
Dirceu pode ter embolsado outros R$ 7 milhões a partir de contratos assinados entre empresas e a Petrobras, segundo a PF. 

Relatório da Polícia Federal encaminhado à Justiça Federal do Paraná aponta, conforme os investigadores, a comprovação de que o ex-ministro José Dirceu, indiciado no âmbito da Operação Lava-Jato, recebeu pelo menos R$ 11,8 milhões em suborno. No entanto, o petista pode ter embolsado diretamente, segundo o documento oficial da PF, mais R$ 7 milhões a partir de contratos assinados entre empresas prestadoras de serviços e a Petrobras.

Na planilha feita pela PF, aparecem reformas em residências do petista. O pagador seria o lobista e delator Milton Pascowitch, que forneceu provas de que teria gastado pouco mais de R$ 2 milhões nas intervenções. Há também, por parte de Pascowitch, o pagamento de um apartamento da filha do ex-ministro no valor de R$ 500 mil e despesas com fretamento de aeronave que chegaram a R$ 1,5 milhão. O restante seriam pagamentos por serviços fictícios prestados pela JD, consultoria de Dirceu, à Jamp e repasses feitos pelas empresas Engevix, UTC, OAS, Camargo Corrêa e Galvão Engenharia.

Em relação às terceirizadas Hope e Personal, o relatório indica que o ex-ministro recebia aproximadamente 30% dos pagamentos mensais das empresas que “girava, num cálculo conservador, em R$ 500 mil de 2010 a 2013”. Além de Dirceu, a Polícia Federal indiciou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e outras 12 pessoas em dois inquéritos relativos à 17ª Fase da Operação Lava-Jato, denominada Pixuleco. Uma das filhas de Dirceu, Camila Ramos de Oliveira e Silva, e o irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva também foram enquadrados. No relatório de 152 páginas, os investigadores afirmam que a engrenagem de corrupção que teria sido montada pelo petista movimentou R$ 59 milhões em suborno, no entanto, o montante pode chegar a R$ 80 milhões.

A PF aponta que, pela conta da JD, empresa de consultoria do petista, passaram valores que ultrapassam os R$ 34 milhões considerando o período compreendido entre 2009 e 2014. O ex-ministro — que ainda cumpre pena, em regime aberto, pela condenação no mensalão — foi indiciado por quatro crimes: formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em relação a Vaccari, a PF incluiu mais um delito: pertencimento à organização criminosa. Nos dois inquéritos concluídos ontem e remetidos à Justiça, figuram também o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, o lobista Milton Pascowitch e os executivos Gerson Almada, Cristiano Kok e José Antunes Sobrinho, todos da Engevix. Julio Cesar dos Santos e Roberto Marques, ex-assessores do petista, também indiciados. A defesa de Dirceu alegou que só vai se pronunciar quando analisar o texto.

Outro relatório encaminhado ao Supremo, que aponta o indiciamento do senador Benedito de Lira (PP-AL) e o seu filho Artur Lyra, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, indica provas de que o doleiro Alberto Youssef teria repassado R$ 200 mil para quitar dívidas de campanha. Em depoimento, Artur Lira disse que o destinatário final do recursos era o ex-deputado Pedro Correa, um dos presos da Lava-Jato.
____________________________________________________________________________________________________________________
Duque: delator é um mentiroso

O engenheiro Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, preso na Operação Lava Jato, afirmou ontem, na CPI que investiga corrupção na estatal, que o delator Augusto Mendonça “é um mentiroso contumaz”. Duque e o delator ficaram frente a frente em audiência de acareação na CPI da qual também participa o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Lava-Jato.

Duque e Vaccari permaneceram em silêncio, alegando orientação de seus advogados. Mas o ex-diretor de Serviços da Petrobras repetiu inúmeras vezes que o delator “é um mentiroso”. Mendonça confirmou aos deputados da CPI que fez “contribuições” ao PT — valores tirados da propina que afirma ter pagado a Duque. A pedido do então diretor de Serviços da Petrobras, Mendonça disse que procurou Vaccari para ajustar os repasses.

“Ele (Mendonça) é um mentiroso, ele sabe disso”, reafirmou Duque, olhando para o delator. “Não consegue provar nada porque ele não tem nada para provar, porque ele mente”, continuou

“Tigrão”
O misterioso personagem “Tigrão” dividiu a sessão da CPI da Petrobras em Curitiba, base da Operação Lava-Jato. Em seus depoimentos à Polícia Federal e à Justiça Federal, Mendonça disse que Duque enviava emissários a seu escritório para retirar propinas em espécie. Os emissários eram identificados pela alcunha “Tigrão”, segundo Mendonça.

À CPI, o executivo, que representava a Toyo Setal em negócios com a Petrobras, afirmou que eram pelo menos três os “Tigrões”. Descreveu um deles como “gordinho” com 1.70m de altura, aproximadamente. Este ia “mais vezes” retirar o dinheiro.

“Quem é ‘Tigrão’, onde mora esse ‘Tigrão’? Qual é a identidade desse ‘Tigrão’? questionou o deputado Luiz Sérgio (PT/RJ), relator do colegiado. “Era um codinome, não sei quem era. Foram pelo menos três pessoas com esse codinome ‘Tigrão’”, respondeu o delator. “Uma pessoa foi várias vezes e outras pessoas poucas vezes”, completou.

“O senhor é um mentiroso”, reafirmou. “Ele cita ‘Tigrão’ em sua delação. Como alguém pode entregar uma fortuna para uma pessoa de nome ‘Tigrão’?”, questionou Duque.