Correio braziliense, n. 19092, 03/09/2015. Política, p. 3

Uma trinca que azucrina o PT

 

Paulo de Tarso Lyra

O PT comemora a saída do PMDB da articulação política e defende uma reforma ministerial que mantenha intactos os feudos políticos. Mas está ausente de qualquer instância decisória das ações anticrise em discussão no Congresso Nacional. Ontem, um dia após a criação da Comissão Especial para debater a agenda Brasil, a cúpula do PMDB no Senado - Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR) - defendia junto a empresários, sem a presença de qualquer petista, a criação de Parcerias-Público-Privadas para melhorar a economia. Na Câmara, é do PP o relator responsável por tentar arrumar o orçamento. "O governo tem de agradecer. O PT tem muitas facções, elas ficam brigando entre si e não encontrariam soluções para resolver a crise", disse Ricardo Barros (PP-PR).

Os petistas sentiram o golpe. Na última terça-feira, durante instalação da Comissão Especial para tratar dos projetos incluídos na agenda Brasil, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), reclamou da divisão dos trabalhos. O presidente da Comissão é o senador Otto Alencar (PSD-BA) e o relator, o senador Blairo Maggi (PR-MT). Para Costa, a definição das atribuições deveria respeitar a proporcionalidade das bancadas. Alencar faz parte do bloco parlamentar capitaneado pelo PMDB. Maggi não, mas está arrumando as malas para deixar o PR e tornar-se, a exemplo de Marta Suplicy, um peemedebista.

"Quem segura as votações contra o governo aqui no Senado é o PMDB. Tire a gente do bloco de apoio ao governo, trate-nos como oposição e veja quantas vezes o governo vai ganhar aqui", ameaçou um cacique peemedebista. "Falta credibilidade ao PT, como falta ao governo. Não há quadros petistas aqui na casa para debater as coisas", declarou outro líder partidário de uma legenda da base aliada.

Líder do governo no Congresso, o senador José Pimentel (CE) tentou minimizar a perda de espaço da legenda. Alegou que a dinâmica de distribuição das tarefas é diretamente proporcional ao tamanho das bancadas. "Estamos mais preocupados com o conteúdo das propostas que serão aprovadas do que com quem conduz as negociações ou elabora os relatórios", afirmou Pimentel. Não é o que pensa um companheiro de bancada. "Claro que é preocupante estarmos de fora das decisões de nosso governo. Estamos refém dos aliados na busca de soluções para enfrentar a crise", lamentou um senador petista.

Reuniões
A Comissão Especial da Agenda Brasil vai ter sua primeira reunião oficial na próxima semana. Mas ontem os representantes da Câmara Brasileira da Indústrias da Construção (Cbic) reuniram-se com os caciques do PMDB na presidência do Senado e se colocaram à disposição para participar de PPPs. "Queremos empresas participando de PPPs nas áreas de segurança e infraestrutura, por exemplo", defendeu Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado.

Para o deputado Ricardo Barros (PP-PR), a ausência do PT em qualquer posto de destaque no Congresso para debater saídas da crise é consequência da própria atuação do partido. "Eles disputaram a presidência contra Cunha e perderam. Com isso, os aliados de Cunha levam vantagem na distribuição de relatorias de matérias importantes", disse Barros. "O PT está pagando o preço pelas escolhas que fez", completou.