Paulo de Tarso Lyra, Marcella Fernandes, Luiz Carlos Azevedo
Pressionada pelos panelaços, pela proximidade das manifestações de 16 de agosto e pelo risco de mais derrotas no Congresso, a presidente Dilma Rousseff resolveu reagir. Durante entrega de casas do programa Minha Casa, Minha Vida em Roraima, a petista fez o discurso mais duro até o momento contra as ameaças de afastamento do cargo. “Este país é uma democracia, e uma democracia respeita, sobretudo, a eleição direta pelo voto popular”, afirmou, ao lembrar que viveu o período da ditadura militar. Ela reforçou a intenção de continuar no governo. “A primeira característica de quem honra o voto que lhe deram é saber que é ele a fonte da minha legitimidade, e ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu”, completou a presidente.
Mas Dilma não sofre apenas com as ameaças externas. Ela também é pressionada internamente, dentro do governo, e no PT, partido ao qual é filiada, mas que não morre de amores por ela. A mais recente sugestão vinda da legenda é que a presidente nomeie o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Ministério das Relações Exteriores. A intenção dos promotores da ideia é blindar Lula e evitar que ele se torne alvo da Operação Lava-Jato. Nomeado ministro, ele ganharia foro privilegiado e ficaria livre de pedidos de prisão de juízes de primeira instância, caso de Sérgio Moro. No fim da manhã de ontem, cerca de 500 pessoas, incluindo os ministros da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, e da Defesa, Jaques Wagner, promoveram um abraço no Instituto Lula, em São Paulo, alvo de um ataque a bomba na semana passada.
Demandas
Até mesmo o argumento para indicar Lula para o MRE está montado. “É um ministério que não tem grandes orçamentos, o que evitaria o choro dos aliados. Mas, ao mesmo tempo, é um ministério nobre, refinado. Não dá para colocar um ex-presidente no ministério da Pesca ou do Turismo, por exemplo”, justificou um petista. A dificuldade será convencer a presidente a trazer para a sua equipe alguém com capacidade de ofuscá-la politicamente e, ainda, com o condão para atrair para o governo a crise ética vivida pelo PT, assolado pelos escândalos de corrupção na Petrobras.
Dilma também tem contra si uma demanda vinda de petistas e peemedebistas. Ambas as legendas cobram que ela exerça uma pressão mais forte sobre outras legendas da base aliada. Os dois partidos consideram inconcebível que legendas como PSD, PTB e PDT, que têm pastas de destaque na Esplanada, “se deem ao luxo de provocar rebeliões e de votar contra o governo em matérias que impactam as contas públicas”, reclamou um peemedebista.
O PMDB vai além. Durante reunião com a presidente Dilma, na manhã de quinta-feira, solicitada pelo próprio para explicar as declarações dadas na véspera, o vice-presidente Michel Temer disse que não defendeu nenhum tipo de ruptura ao afirmar que “o país vive uma crise política e econômica grave e fazer um apelo pela união nacional”. Levou à presidente a íntegra da entrevista concedida na quarta. E disse: “Se a senhora não estiver satisfeita com meu trabalho, o cargo está à disposição”. A presidente não aceitou, elogiou a atuação de Temer e disse para ele continuar exatamente onde está. E ainda chamou, poucas horas depois, os ministros petistas para pedir apoio ao trabalho de Temer e ao titular da Aviação Civil, Eliseu Padilha.