Correio braziliense, n. 19066, 08/08/2015. Economia, p. 7

Inflação atinge 9,56%

 

Alessandra Azevedo

 
Ainda faltam quase cinco meses para o fechamento do ano, mas o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já assumiu um compromisso nada agradável: terá que publicar uma carta à Nação explicando o porquê de ter falhado na missão de entregar a inflação na meta. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente de janeiro a julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 6,83%, estourando o teto de 6,5% previsto para todo o ano. Foi o pior resultado para o período desde 2003 uma derrota e tanto para o BC, que vem elevando os juros desde outubro do ano passado. A taxa básica (Selic) está em 14,25% ao ano. 

No acumulado de 12 meses, a inflação alcançou 9,56%, índice sem precedentes também desde 2003. Diante desse resultado, os economistas já admitem a possibilidade de o IPCA fechar 2015 acima de 10%. Pelos cálculos do IBGE, em quatro das 13 capitais pesquisadas o custo de vida já está em dois dígitos Curitiba (10,83%), Goiânia (10,26%), Porto Alegre (10,19%) e Rio de Janeiro (10,18%). Infelizmente, a inflação não está dando descanso. Os números são preocupantes, disse o economista-chefe da Itaim Asset, Ivo Chermont. 

Em julho, especificamente, o IPCA alcançou 0,62%, o patamar mais alto para o mês em 11 anos. Alguns técnicos do governo comemoraram o número, alegando que houve desaceleração em relação a junho, quando o indicador cravou 0,79%. Mas, de melhora, não houve nada. Em julho de 2014, a carestia havia sido de apenas 0,01%. Pior: os reajustes continuaram disseminados, com 67% dos produtos e serviços pesquisados pelo IBGE apontando alta no mês passado. 

Chermont chamou ainda atenção para outro dado alarmante: entre 2009 e 2014, nos meses de julho, o item alimentação dentro de casa registrou queda média de 0,56%. Em julho deste ano, houve elevação de 0,59%. Ou seja, a virada foi de mais de 1%. Portanto, não dá para respirar aliviado, disse. Os alimentos sempre caem em julho. Neste ano, está sendo muito diferente, acrescentou o economista. 

A pressão no bolso dos consumidores vai continuar em agosto, avisou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Segundo ela, energia elétrica, água e esgoto, pedágios, ônibus e gás encanado terão reajustes ao longo do mês. Também haverá impacto do dólar, que, apenas em julho, acumulou valorização de 10% ante o real. Na visão da técnica, diante da recessão vivida pelo país, não é possível medir qual será o tamanho do repasse da moeda norte-americana para os preços. O impacto do dólar sobre a inflação dos próximos meses vai depender do comportamento dos agentes econômicos, disse. 

O IBGE destacou que, em agosto, já identificou aumento da energia em Belém (7,47%) e em Vitória (2,52%). Em Brasília, haverá alta nas tarifas, mas o reajuste ainda não foi homologado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No Rio de Janeiro, desde o início do mês, as taxas de água e esgoto subiram 9,98% e os pedágios, entre 14% e 16%. O gás natural veicular (GNV), por sua vez, subiu 8,54% e o gás encanado, 2,62%. Já houve correção de 7,14% nas tarifas de ônibus intermunicipais em Goiânia e de 14% nos pedágios de São Paulo.

Eulina lembrou que, no mês passado, a energia elétrica foi a grande vilã do orçamento das famílias. Com alta média de 4,17%, respondeu por 0,16 ponto percentual do IPCA. Também as tarifas de água e esgoto pesaram, com elevação de 2,44% (em Goiânia, o reajuste chegou a 19,56%). Entre os alimentos, com aumento médio de 0,16%, o feijão-mulatinho foi o destaque, com reajuste de 8,88% no mês e de 35,87% no ano.