Vai que é tua, Nelson!

 

CATARINA ALENCASTRO E GERALDA DOCA 

O globo, n. 29989, 15//09/2015. País, p. 6

 

Na entrevista coletiva de ontem, quando uma jornalista perguntou por que o governo havia desistido de mandar a proposta de recriação da CPMF há cerca de dez dias e agora voltava ao mesmo ponto, os ministros Joaquim Levy ( Fazenda) e Nelson Barbosa ( Planejamento) se entreolharam. Parecia que um estava jogando para o outro a tarefa de responder. Levy, que sempre defendeu cortes mais profundos e um Orçamento sem déficit, acabou jogando a batata quente para Barbosa. Todos na sala riram.

AILTON DE FREITASDupla. Entrosamento entre ministro Joaquim Levy, com semblante mais leve, e seu colega Barbosa parecia melhor

Já no início da entrevista, quando Barbosa explicou que falaria dos cortes no governo e que Levy ficaria com a explicação sobre novos impostos, os dois ministros riram.

— Vou começar a apresentar as medidas do lado do gasto. Em seguida, o ministro Joaquim Levy vai apresentar as medidas do lado das receitas — disse Barbosa.

No fim da entrevista, Levy disse que a CPMF duraria pelo menos 4 anos, mas que o próximo presidente poderia revogá- la, caso quisesse. Barbosa achou graça da honestidade do colega.

Há duas semanas, no dia em que a presidente Dilma ordenou que os dois ministros aparecessem lado a lado para apresentar os números do Orçamento deficitário para 2016, a falta de sintonia entre os dois era visível.

Levy demonstrou desconforto em vários momentos da apresentação e falou pouco, após longa apresentação do colega. De lá para cá, boatos sobre o desembarque de Levy do governo trouxeram apreensão ao mercado e forçaram o governo a sair publicamente em sua defesa. Ontem, o semblante de Levy era bem mais leve. Apesar da barba por fazer e do ar de cansaço dos dois ministros, o entrosamento dos dois melhorou.

Outro ponto que marcou a apresentação foi o improviso. Aparentemente feita às pressas, a sequência de slides com cortes e novas previsões orçamentárias continha erros. No quadro que mostrava a revisão de despesas e receitas, a conta não fechava, e sobrou R$ 1,3 bilhão sem destinação. Mais tarde, o Planejamento admitiu o erro e retificou, dizendo que houve revisão para cima nas despesas com o pagamento do seguro- desemprego.