Título: Furacão de transtornos
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Fonte: Correio Braziliense, 29/08/2011, Mundo, p. 14

Tempestade Irene deixa 18 mortos e causa prejuízos de US$ 20 bilhões. Em Nova York, casas sofreram danos » Max Milliano Melo

"Ainda não acabou. Os impactos dessa tempestade serão sentidos por algum tempo." O alerta foi feito pelo presidente norte-americano, Barack Obama, em discurso pronunciado às 18h de ontem (horário de Brasília). Apesar do número relativamente baixo de mortes ¿ 18, até o fechamento desta edição ¿, o furacão Irene deixou um rastro de transtornos e de destruição por onde passou. Na região nordeste do país, sete estados (Nova York, Virgínia, Massachusetts, Connecticut, Rhode Island, Nova Jersey e New Hampshire) declararam situação de emergência. Novas inundações ainda podem ocorrer, em função do mau tempo. Em um pronunciamento de 15 minutos, Obama anunciou que, inicialmente, os danos causados pelo furacão custarão US$ 20 bilhões aos cofres da economia norte-americana, que ainda tenta sair da crise iniciada em 2009.

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Especialistas garantem, no entanto, que a cifra seria maior, se for levado em consideração o que a economia deixou de movimentar e o que foi gasto pelo governo e pelos cidadãos durante a preparação para as rajadas de vento. Cerca de 2 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas, 6 milhões ficaram sem eletricidade, mais de 100 mil passageiros tiveram os voos cancelados e, pela primeira vez na história, o sistema de transporte público da cidade de Nova York foi fechado.

Ainda em seu pronunciamento, o presidente recomendou aos cidadãos afetados pela tormenta que peçam ajuda ao governo federal. "As contínuas chuvas podem ter impactos, inclusive, em locais bastante distantes do centro da tempestade", advertiu o democrata, que aconselhou a população a permanecer em alerta e a respeitar os avisos das autoridades locais.

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Até a noite de ontem, o número de mortos em função das rajadas de vento era de 18, seis apenas na Carolina do Norte. Por ser o primeiro estado em que o furacão tocou o chão, às 7h30 de sábado (hora de Brasília), foi o que mais sofreu com os fortes ventos. Em Virgínia, três pessoas morreram, entre elas, um garoto de 11 anos. A Pensilvânia também contabilizou três mortos. Nova Jersey teve duas mortes, enquanto os estados de Nova York, Connecticut, Flórida e Maryland tiveram uma vítima, cada.

Na região de Nova York, a mais sensível aos danos por abrigar mais de 28 milhões de pessoas, a tempestade causou transtornos. Os ventos destruíram casas, e a força das ondas danificou pontes e estradas. Na Ilha de Manhattan, o nível das águas da Baía de Nova York e do Rio Hudson subiu, inundando dezenas de estacionamentos e de galerias subterrâneas.

Vistoria O fim do estado de emergência na cidade foi decretado pelo prefeito Michael Bloomberg na tarde de ontem. No entanto, a recomendação era de que a população só começasse a retornar às casas a partir das 18h, para dar tempo de engenheiros e especialistas fiscalizarem os prédios danificados. Cerca de 470 mil pessoas tiveram que ser retiradas de cinco bairros nova-iorquinos. Até o início da noite, a administração dos sistemas de trens e de metrôs não sabia quando as operações seriam retomadas. Engenheiros avaliavam danos. Os ônibus voltaram a circular perto das 19h30.

O secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, acompanhou do 30º andar do hotel, entre a 6ª e a 7ª Avenidas, a passagem do Irene por Nova York. Ele chegou à cidade na sexta-feira para a abertura do World Police and Fire Games, um campeonato mundial de modalidades olímpicas que reúne forças policiais. O DF é representado em várias modalidades. Por causa da tempestade, todos os jogos do fim de semana tiveram que ser suspensos. "Vi tudo pela janela. Não saí do quarto do hotel por recomendação da prefeitura de Nova York. A cidade parecia abandonada", relatou. "Ainda bem que a passagem do furacão foi mais tranquila do que a previsão inicial."

Os dois aeroportos da cidade, La Guardia e John F. Kennedy ¿ além do Newark, na vizinha Nova Jersey ¿, permaneceriam fechados até a tarde de hoje. Dez mil voos haviam sido cancelados até ontem, atrasando as decolagens e os pousos previstos para esta semana. Segundo as autoridades aeroportuárias de Nova York, será necessário um mês para o sistema voltar ao normal.

Foi a primeira vez que um furacão passou pela região desde o Glória, em 1985. Em 2005, o Katrina devastou parte de Nova Orleans, matando 1,7 mil. O Irene chegou a ser considerado furacão de nível 3, mas foi rebaixado ao nível 1 na escala Saffir-Simpson (que vai até 5) ¿ com ventos de 120km/h. Na manhã de ontem, tornou-se "tempestade tropical".