Mapa do caminho

 

MÍRIAM LEITÃO

O globo, n. 29987, 13//09/2015. Economia, p. 36

 

O caminho é aprovar reformas que reduzam os gastos. O cenário político está mais conturbado, e a economia precisa de um tratamento de emergência. O governo deveria ter uma série de medidas de curto, médio e longo prazos que mudem a espiral dos gastos públicos. O governo está espantosamente paralisado e vacilante. A presidente Dilma Rousseff está focada na lista dos contra e a favor de um eventual impeachment.

Não é situação sem remédio. Nenhuma é. Mas é o momento econômico mais perigoso da era do real. Ao mesmo tempo, os fatos da Lava-Jato ampliam as possibilidades de uma mudança profunda do Brasil na política e na economia, com novas formas mais transparentes e saudáveis de financiar as campanhas e estabelecer parcerias entre setor público e setor privado.

Na economia, depois do último revés, é preciso pavimentar o caminho para voltar ao grau de investimento, e isso começa com medidas que os ministros conhecem bem e sobre as quais têm falado superficialmente, mas sem a precisão, clareza e urgência que o momento exige.

As agências de risco olham o momento presente e a tendência. Portanto, mesmo que as medidas não tenham a força para mudar a situação imediatamente, elas podem influir positivamente se apontarem para uma evolução favorável no futuro. A derrota da semana passada foi das grandes. Era esperada, mas veio mais forte do que se imaginava porque além da perda do grau de investimento o Brasil foi colocado em perspectiva negativa. Reverter esse clima tem que ser a obsessão do governo neste momento e para isso é preciso fazer muito mais do que foi feito até agora.

A presidente Dilma não pode alegar surpresa, nem incapacidade de cortar gastos. Governa o país há cinco anos, antes disso foi chefe da Casa Civil. É difícil não ter esbarrado com a informação de que o Orçamento é engessado, que os gastos obrigatórios são altos. Mesmo assim, criou fórmulas que ampliaram os gastos obrigatórios e inchou as despesas discricionárias, principalmente no ano passado.

Ela poderia ter encaminhado há muito tempo reformas para conter o crescimento das despesas previdenciárias. E não o fez. O ministro Nelson Barbosa, no início deste segundo mandato, falou em mudar a dupla indexação do salário mínimo, que eleva também o déficit da Previdência. A presidente Dilma mandou-o voltar atrás e desdizer o que havia dito. O governo petista inchou a máquina pública de forma descontrolada, sem ter feito uma reforma administrativa que dê ao gestor público alguma flexibilidade. Tudo isso levou o país a ter 60% do gasto primário do governo dedicado à Previdência e ao pessoal. Mas esse engessamento vinha crescendo e o governo ainda piorou o quadro com decisões insensatas.

Não é crível que o governo só tenha se dado conta perto do fim de agosto que o Orçamento tinha um rombo. Por que não agiu a tempo de evitar o envio de um Orçamento deficitário para o Congresso? Provavelmente porque fez mais uma avaliação errada da realidade. Achou que dava para levar. Como achou que dava para levar todo aquele lixo teórico que chamou de “a nova matriz econômica”.

O plano agora tem que ser implantar aquilo que, de vez em quando, alguém insinua que seria feito, mas depois volta atrás com evasivas e jogo de palavras. Reduzir gastos no curto prazo, congelar despesas que cresceram demais, cortar ministérios, muitos cargos em comissão, vender ativos, propor reformas estruturantes para o futuro, como a da Previdência. Isso permitirá reduzir o desequilíbrio no curto prazo e apontar para uma trajetória de mais equilíbrio no futuro. Precisamos de uma melhora agora, e um projeto para os próximos anos. O governo deveria investir no projeto fiscal do país, em vez de pedir aos contribuintes que façam o “investimento” de pagar mais impostos.

Se a presidente Dilma quer lutar para permanecer no cargo deveria parar de ficar olhando aquele mapa de quem votaria a favor e quem votaria contra um eventual pedido de impeachment que sempre está em sua mesa e sobre o qual fala com seus interlocutores mais próximos. Deveria construir um mapa do caminho para a saída da crise econômica. Afinal, se ela quis o poder, foi para governar, e não para reinar sobre a ruína.