Correio braziliense, n. 19093, 04/09/2015. Política, p. 2

Temer volta a expor fragilidade de Dilma

 

Paulo de Tarso Lyra

 
Durante evento em São Paulo com empresários, vice-presidente afirma que será difícil a petista resistir mais três anos com a popularidade em baixa. Há um mês, o peemedebista já tinha irritado o Planalto com a sugestão de que alguém precisaria unir o país.

O vice-presidente Michel Temer expôs mais uma vez a fragilidade da presidente Dilma Rousseff e, em uma sequência de frases, deu combustível para mais uma crise entre ele e a titular do Planalto. Durante evento com empresários na noite de ontem, em São Paulo, questionado sobre todos os rumores que cercam a principal mandatária do país, que incluem possibilidades de renúncia e de impeachment, Temer defendeu sua companheira de chapa, mas acrescentou: “Hoje, realmente, o índice de aprovação do governo é muito baixo. Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo”, alertou ele.

As recentes pesquisas de popularidade mostram uma aprovação da presidente oscilando entre 7% e 8%. “Se continuar assim, eu vou dizer que, de fato, fica difícil”, resumiu ele. O peemedebista disse que o governo só terá condições de sair dessa crise em que se emaranhou se conseguir resolver a crise econômica e política. Mas alertou: “Agora não é torcer, é trabalhar”, resumiu.

Um dos fantasmas que assombram o governo é a possibilidade de a chapa presidencial — que inclui não apenas a presidente, mas também o vice — ser cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se for comprovado que a campanha foi financiada por dinheiro desviado da Petrobras, como delatou o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, ao Ministério Público Federal, no âmbito das investigações da Operação Lava-Jato. “Se a chapa for cassada, eu vou para casa feliz. Ela vai para casa…”, afirmou. Diante do riso de alguns dos presentes, completou: “Não sei se feliz. Mas espero que o governo vá até 2018”, acrescentou.

Fritura
Depois de um primeiro mandato com uma relação completamente insossa entre Dilma e Temer, o vice-presidente ganhou status de imprescindível após a deterioração nas relações entre o Congresso e o Planalto. Foi alçado à condição de coordenador político do governo e, ainda que aos solavancos, conseguiu aprovar o ajuste fiscal. Há um mês, no entanto, ele entrou em um processo de fritura interno ao dizer que “o país precisa de alguém que conduza um pacto de união nacional”, desconsiderando que esse é um dos papéis do presidente da República. Dilma também não gostou de Temer fazer — a exemplo do que aconteceu ontem — reuniões com empresários sem consultá-la.

Lula no Alvorada
Durante encontro com Dilma Rousseff, ontem à noite, no Palácio da Alvorada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar preocupado com o afastamento de Michel Temer e do PMDB do governo. Ele afirmou que a antecessora precisa repactuar a relação com a legenda o mais rápido possível. Dilma se reuniu com Temer e com os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.