Emissões caem e afetam banco de investimento

Lianting Tu e Christopher Langner 

10/09/2015

A vida está ficando mais difícil para os bancos internacionais de investimento porque alguns dos negócios que mais dão dinheiro no mundo dos bônus estão se tornando escassos.

As empresas com notas abaixo do grau de investimento de mercados emergentes emitiram um total global de US$ 5,5 bilhões em notas em dólares americanos até esta altura do trimestre, o que as coloca a caminho do menor valor desde os três últimos meses de 2011, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Essa redução poderá diminuir os ganhos com subscrição de dívidas, que no Credit Suisse Group AG - maior organizador de dívidas de alto rendimento de mercados emergentes - caíram 16% no primeiro semestre.

Da China ao Brasil, passando pela Rússia e o México, as empresas estão se afastando dos mercados "offshore" em meio à aversão ao risco e a disputas políticas que empurraram algumas taxas para o patamar de dois dígitos. As firmas que continuaram vendendo títulos internacionais, em sua maioria blue chips, são muito menos lucrativas para o serviço. As tarifas de subscrição para as empresas com grau de investimento giram em torno de 0,433% em média, contra 0,865% entre as empresas com "yields" (retornos) elevados.

"Eu posso imaginar que são necessários menos banqueiros especializados em altos rendimentos", disse Florian Schmidt, chefe de mercados de capitais de dívidas da SC Lowy Financial (HK) Ltd., em Hong Kong. Isso significará "menos trabalho na assessoria de classificações, terá impacto nos advogados, com certeza causará impacto em todos os ramos profissionais. Quem estiver envolvido em atividade primária terá tempos muito difíceis pela frente".

Os bancos internacionais de investimento poderão registrar uma queda de 19% na receita no terceiro trimestre em um momento em que a volatilidade torna o fechamento de acordos mais difícil, escreveram analistas do J.P. Morgan Chase Co. em relatório.

No Credit Suisse, a queda de 16% nas tarifas de subscrição de dívidas contrasta com um declínio de 1% nas tarifas de assessoria e de outras atividades nos seis primeiros meses de 2015, na comparação com o mesmo período de 2014. As tarifas de investment banking para vendas de dívidas do Bank of America, classificado entre os cinco principais subscritores de bônus de alto rendimento de emergentes desde 2009, recuaram 15,4%.

Candice Sun, porta-voz do Credit Suisse em Hong Kong, preferiu não fazer comentários, assim como Tiffany Chen, porta-voz do Bank of America em Hong Kong.

Um dos fatores de pressão é a China, que cresceu nos últimos anos e se tornou a maior fonte de novas emissões de bônus da Ásia. As construtoras chinesas têm estado visivelmente ausentes dos mercados globais neste ano, preferindo vender dívidas denominadas em yuans em meio à queda das taxas onshore. Isso implica em tarifas ainda mais baixas para os bancos de investimento internacionais, que normalmente se especializam em negócios em dólar e encontram dificuldades para competir com os bancos chineses na parte continental do país asiático.

As empresas brasileiras também vêm se afastando dos mercados estrangeiros para evitar o risco cambial depois que o real atingiu o nível mais baixo em relação ao dólar desde outubro de 2002. As vendas de bônus internacionais na maior economia da América Latina caíram 65% neste ano em relação ao mesmo período de 2014, para US$ 14,7 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Nenhum emissor com classificação de grau especulativo do país vendeu notas em dólares entre setembro de 2014 e junho deste ano. O montante de US$ 1,2 bilhão emitido depois disso coloca 2015 no caminho de ser o pior ano desde 2002 para as vendas de bônus brasileiros com classificação abaixo do grau de investimento.

"Não estamos vendo alguns dos emissores de tamanho considerável com classificação abaixo do grau de investimento da região porque eles estão relacionados com a indústria de commodities ou por causa de parte da incerteza que rodeia a situação do Brasil", diz Michael Schoen, do Scotiabank em Nova York.

Valor econômico, v. 16 , n. 3838, 10/09/2015. Finanças, p. C5