O Estado de São Paulo, n. 44503, 22/08/2015. Economia, p. B1

País perde 157,9 mil empregos formais em julho, o pior resultado em 24 anos

Bernardo Caram

 

O Brasil fechou 157,9 mil vagas com carteira assinada em julho, o pior resultado para o mês nos últimos 24 anos. O mês passado foi o quarto seguido em que o número de demissões foi maior que o de contratações. Com o dado ruim, o País acumula um resultado negativo de quase meio milhão de vagas no acumulado de janeiro a julho.

O saldo de julho, informado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é muito inferior ao registrado no mesmo mês de 2014, quando foram criadas 11,8 mil vagas. Há 16 anos o País não registrava um número negativo no mês de julho. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do mês passado são fruto de 1,397 milhão de admissões e 1,555 milhão de demissões.

O mercado de trabalho ruim em julho já havia sido detectado pelo IBGE, que divulgou na quinta-feira a sua Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que considera apenas os números das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre. Nessas regiões, o desemprego médio ficou em 7,5% no mês passado. Em julho de 2014, estava em 4,9%.

Os números do Caged divulgados ontem foram ainda piores que as expectativas de mercado, que já previam um resultado negativo. Levantamento feito pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, com 13 instituições mostrava que as estimativas eram de um resultado negativo de 82,2 mil a 140 mil postos de trabalho. “A tendência é continuar piorando e o desemprego pode atingir 10% em janeiro do próximo ano”, disse o economista-chefe da AZ FuturaInvest, Paulo Eduardo Nogueira Gomes.

No acumulado de janeiro a julho, o total de postos de trabalho com carteira assinada fechados no País soma 494,4 mil. Pela primeira vez desde o início da gestão petista no Palácio do Planalto, em 2003, o saldo acumulado no período ficou negativo. O número mais baixo registrado nesse período foi no ano passado, quando houve geração de 681,5 mil postos de trabalho.

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, não concedeu entrevista sobre os dados, mas falou com a imprensa pela manhã, antes da divulgação. Segundo ele, tem gente que torce até para um desemprego de 100%. “Mas isso não vai ocorrer. O País está tomando as medidas necessárias, o governo tem retomado os investimentos”, afirmou, acrescentando que a economia está sendo afetada por uma crise política.

Setores. Mais uma vez, a indústria de transformação foi a responsável pelo fechamento do maior número de vagas formais de trabalho em julho. No mês passado, o saldo do setor ficou negativo em 64,3 mil postos. O número representa o pior resultado para o mês da série histórica iniciada em 1992.

O setor teve retração generalizada, com destaque para a indústria têxtil, que registrou 8,6 mil postos a menos, a mecânica, com queda de 7,8 mil vagas, e a metalúrgica, que encerrou 7 mil empregos formais.

O dado de julho também é o pior registrado na série para quase todos os setores, com exceção da agricultura. O setor de serviços foi o segundo que mais fechou vagas no mês passado, com saldo negativo de 58 mil postos, seguido do comércio, com menos 34,6 mil vagas, e da construção civil, que fechou 22 mil postos formais de trabalho. A administração pública encerrou o mês com 2 mil vagas a menos.

O resultado para o mês teve resultado positivo apenas para a agricultura, que abriu 24,5 mil novas vagas formais. O setor extrativo mineral apresentou relativa estabilidade, com menos 795 postos em julho.

Gomes, da AZ FuturaInvest, avalia que as perspectivas para a indústria não são das melhores, já que no segmento automotivo, por exemplo, muitos funcionários ainda estão em férias coletivas e lay-off. Ele aponta que a construção civil poderia melhorar um pouco nos próximos meses, com a entrada do 13º salário na economia. Um efeito semelhante tenderia a ser sentido no comércio, em função das vendas de fim de ano, mas o desempenho observado em outras datas comemorativas este ano, como o Dia dos Pais, mostra que o impulso não seria muito grande.

Colaborou Álvaro Campos