Tarso: Outra política econômica afastaria impeachment

 

O globo, n. 29988, 14//09/2015. País, p. 5

 

Ex- presidente do PT, escolhido para recuperar a imagem do partido após o escândalo do mensalão, Tarso Genro disse ontem que se preocupa com a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff não chegar ao fim do mandato. E que um eventual pedido de impeachment da presidente “depende mais da política que do Direito”.

— Tenho essa preocupação, sim. Evidentemente, têm processos legais que podem ser levados a isso, e nós sabemos que a interpretação de um pedido de impedimento depende muito mais da política do que do Direito — disse Tarso, em entrevista ao colunista do GLOBO Jorge Bastos Moreno, no programa “Preto no Branco”, do Canal Brasil.

Para o ex- governador do Rio Grande do Sul e ex- ministro da Justiça, Educação e Relações Institucionais no governo Lula, a única forma de afastar a possibilidade de impeachment de Dilma é mudar a política econômica:

— O governo, para afastar a criação de um bloco social capaz de dar sustentação para o impedimento, de um bloco parlamentar, teria que mudar a política econômica e monetária. Teria que fazer um ajuste que não se debruçasse sobre as costas dos mais pobres.

Ao comentar o ajuste fiscal do governo, personificado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Tarso disse que a paternidade das medidas deve ser atribuída ao governo.

— O ajuste que está aí não é do Levy, é do governo — afirmou o petista, sugerindo que o governo tem duas opções para sair da crise: uma solução “inovadora”, que seria organizada pela esquerda, ou “tomar medidas que todos os governos tomam”: — Ou seja, não gastar e transformar o problema em uma crise de orçamento, que é uma forma absolutamente medíocre de responder a essas grandes questões históricas.

O petista criticou ainda as alianças do governo do PT. Ele acredita que, no futuro, o partido deve pensar em um novo sistema de entendimento com aliados.

— Acho que o PMDB tem obrigação de dar governabilidade ao governo da presidenta Dilma. Nós temos que defender seu mandato e honrar a votação popular. O PMDB tem obrigação com isso, mas entendo que meu partido deve pensar um novo sistema de alianças, cuja governabilidade não seja tão pragmática e imediatista como essas que se fizeram até agora em todos os governos.

Para Tarso, a aliança do PT com o PMDB chegou ao fim.

— Essa aliança já acabou — disse o petista, acrescentando: — O primeiro partido do governo hoje é o PMDB.

Perguntado sobre quadros do PT para concorrer à Presidência em 2018, Tarso citou outros nomes além de Lula, e disse que não seria candidato.

— Há outros quadros de alta respeitabilidade: ( Fernando) Pimentel ( governador de MG), ( Jaques) Wagner ( ministro da Defesa), ( Aloizio) Mercadante ( ministro da Casa Civil).