Para Lula, redução da nota ‘ não significa nada’

 

JANAÍNA FIGUEIREDO

O globo, n. 29985, 11//09/2015. Economia, p. 26

 

O ex- presidente Lula, que em 2008 viu “momento mágico”, ontem disse que rebaixamento não significa nada. - BUENOS AIRES- No dia em que a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião de urgência para discutir a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s ( S& P) de tirar o grau de investimento do Brasil, o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em visita a Buenos Aires, que o rebaixamento do país “não significa nada”. A frase causou surpresa. Em 2008, quando a S& P tornou- se a primeira das três agências a conceder o investment grade ao país, o então presidente reagiu dizendo que o Brasil “foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade”. O grau de investimento representa uma chancela de bom pagador

Durante mais de uma hora, Lula discursou num seminário sobre responsabilidade social e, além de minimizar a perda do grau de investimento, aproveitou para questionar duramente políticas de ajuste como as que estão sendo adotadas pelo Palácio do Planalto.

— É importante que a gente tenha em conta que o fato de eles diminuírem o investment grade de um país não significa nada, significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem — declarou Lula, para uma plateia de empresários, acadêmicos, diplomatas e funcionários do governo Cristina Kirchner, entre outros, no centro de convenções La Rural, em Buenos Aires.

O ex- presidente fez duras críticas à agência de classificação S& P:

— Eu fico pensando: é engraçado, como é que eles têm facilidade para tomar medidas quando a dor de barriga é na América Latina. Ou seja, todo mundo sabe quantos países da Europa estão quebrados, e eles não têm coragem de diminuir o investment grade de nenhum país.

AJUSTE FISCAL QUESTIONADO

Mas, em 2008, quando o país obteve o grau de investimento, Lula comemorou a decisão da S& P:

— O Brasil vive um momento mágico. Nós acabamos de receber a notícia de que o Brasil passou a ser investment grade. Eu não sei nem falar a palavra, mas se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entendam, é que o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e, que por isso, passamos a ser merecedores de uma confiança internacional que há muito tempo o Brasil necessitava — afirmou o então presidente.

No entanto, ontem, em seu discurso, Lula ainda questionou por diversas vezes a aplicação de políticas de ajuste. Ao comentar o rebaixamento pela agência americana, o ex- presidente disse, ainda, que “quando eles diminuem, vem mais arrocho, mais ajuste, mais desemprego, mais corte de gastos. Não vem nunca mais educação, mais profissionalismo, mais investimento”.

— Em todos os países que passaram por ajuste, a dívida pública cresceu — insistiu o ex- presidente, mencionando os casos de Grécia, Estados Unidos, França, Espanha e Portugal.

Em entrevista publicada no último domingo pelo jornal argentino “Página 12”, porém, Lula havia defendido a necessidade de equilíbrio das contas públicas e de o governo promover um ajuste fiscal — que é alvo de críticas dentro do PT.