Levy ganha ‘ upgrade’ no governo

 

SIMONE IGLESIAS REGINA ALVAREZ

O globo, n. 29985, 11//09/2015. País, p. 5

 

O rebaixamento do Brasil pela agência de risco Standard & Poor’s trouxe pelo menos um efeito colateral positivo para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy: o reconhecimento, dentro do próprio governo, de que os temores explicitados pelo ministro tinham fundamento. Entre tantas outras batalhas perdidas, Levy foi derrotado nas discussões internas sobre o envio ao Congresso de um Orçamento com déficit, justamente o fator que precipitou a perda do grau de investimento. A decisão da S& P mostrou que Levy estava certo e os demais “conselheiros” da presidente Dilma Rousseff, errados.

O choque foi geral com a decisão, mas ainda assim não faltaram “análises palacianas” de primeira hora prevendo que o rebaixamento poderia elevar o coro de críticas ao ministro da Fazenda. Essa primeira avaliação não resistiu ao detalhamento das razões da S& P para rebaixar o Brasil. Ontem, todos os sinais que saíram do Palácio do Planalto já apontavam para o fortalecimento de Levy.

— Ele está mais sólido do que nunca — disse um auxiliar da presidente ao GLOBO, ao explicar que o fato de Levy ser o fiador da política econômica o fortalece neste momento.

Desde que assumiu, o ministro da Fazenda vive uma situação de embate permanente com Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil; e Nelson Barbosa, ministro do Planejamento. A afinidade de Dilma com Barbosa e a forte influência que Mercadante exerce sobre a presidente fizeram a balança pender para o lado dos dois em várias ocasiões, deixando Levy isolado e muito desconfortável na posição de fiador de uma política econômica que não considerava mais sua.

Com o rebaixamento e as evidências de que posições defendidas por Mercadante e Barbosa contribuíram para o downgrade, mudou o clima e mudaram as opiniões no Palácio do Planalto. Desde ontem, aumentou a pressão de integrantes do governo, tanto do PT quanto do PMDB, para que Mercadante saia da Casa Civil, o que fortaleceria Levy e encerraria um ciclo de desgastes internos. Não há, entretanto, ainda sinais de que Dilma seguirá esse caminho.

Se Levy começará de fato a dar as cartas na política econômica é algo ainda a conferir, mas já é consenso o fortalecimento do ministro da Fazenda no embate com as demais forças que disputam poder no governo.