PF não encontra provas contra Pezão e Cabral

 

ANDRÉ DE SOUZA E LETICIA FERNANDES 

O globo, n. 29985, 11//09/2015. País, p. 6

 

A PF pediu o arquivamento do inquérito no STJ sobre o governador Pezão e seu antecessor, Sérgio Cabral, após concluir que não há provas contra eles na Lava- Jato. - BRASÍLIA E RIO - A Polícia Federal concluiu relatório em que pede o arquivamento do inquérito aberto no Superior Tribunal de Justiça sobre o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão ( PMDB), o exgovernador Sérgio Cabral ( PMDB) e o ex- chefe da Casa Civil do estado Regis Fichtner. A PF não conseguiu confirmar suspeitas levantadas na Operação Lava- Jato de que os três teriam recebido dinheiro do esquema de corrupção na Petrobras.

CARLOS MAGNO/ DIVULGAÇÃO/ 14- 3- 2014Alívio. Pezão diz que passou por “muito sofrimento” ao ser acusado, junto com Cabral, pelo delator Paulo Roberto Costa

Agora, o relator do caso no STJ, ministro Luis Felipe Salomão, deverá pedir um parecer do Ministério Público Federal ( MPF), que pode concordar com o pedido de arquivamento da PF ou pedir a continuidade da investigação. Depois disso, caberá a Salomão tomar a decisão.

O inquérito foi aberto em 12 de março deste ano, após pedido do Ministério Público Federal ( MPF). Um dos delatores da Lava- Jato, o ex- diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, afirmou em depoimento que arrecadou R$ 30 milhões em recursos desviados da estatal para caixa dois da campanha de Cabral para governador e de Pezão para vice em 2010.

Segundo o delator, os recursos vieram de empresas que atuavam na obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro ( Comperj). Ainda em depoimento, Costa disse que Fichtner teria viabilizado os repasses. Para tentar confirmar as suspeitas, o STJ chegou a determinar, em 3 de junho, a quebra do sigilo telefônico dos três.

Informado anteontem por seu advogado da decisão da PF, Pezão disse ter ficado aliviado com a notícia, mas lembrou que passou por “constrangimentos e muito sofrimento” durante o período em que foi investigado.

— É uma alegria por dentro e uma tristeza muito grande por ter passado por isso tudo, minha família, amigos... É muito sofrimento para quem passa, dói muito — disse o governador.

Segundo ele, ser alvo de um inquérito policial não é algo “trivial”:

— É um constrangimento. A gente fica moído, não é um negócio trivial. Primeira página de jornal, noticiário o dia inteiro falando de uma coisa que eu tinha certeza que não tinha acontecido. Mas fico feliz também de ver a Justiça prevalecer. Sempre me submeti a ela, respeito muito a Justiça. Mas o processo é doloroso.

Perguntado se enfrentar situações dessa natureza faz parte do ofício de um homem público, Pezão concordou, e aproveitou para criticar Costa, o delator que o citou. O governador disse que o ex- diretor da Petrobras era “captador de recursos” da campanha do senador Lindbergh Farias ( PT- RJ), seu adversário nas eleições de 2014.

— Você fica à disposição de um cara que está lá numa delação premiada durante um período eleitoral. Porque essa notícia começou a surgir em agosto na boca dos meus adversários. Ele era captador da campanha do Lindbergh ( Farias). Era uma denúncia política. Infelizmente, ele (Paulo Roberto Costa), em delação premiada, fez uma denúncia dessas. Isso que é lamentável, mas é da vida — completou Pezão.

Em nota, o ex- governador Cabral também comentou a decisão da PF: “O resultado das investigações comprovou o que declarei desde o início — que eu, como governador do estado, mantive relação exclusivamente institucional com a Petrobras, não tendo jamais feito qualquer solicitação de recursos de campanha a qualquer diretor desta empresa.”

No fim de março, em resposta ao STJ, Pezão negou que tenha recebido dinheiro desviado da Petrobras e pediu o arquivamento do inquérito. Na época, declarou haver interesses políticos por trás das acusações. Sustentou ainda que seria inverossímil sua campanha ter recebido tanto dinheiro da estatal porque, à época, o governo do Rio estava em conflito com a empresa “por conta da mudança do modelo de exploração do petróleo no Brasil”. Admitiu doações legais vindas de empresas investigadas na Lava- Jato, mas destacou que isso não significa que ele tenha sido beneficiado com recursos desviados da Petrobras.

“O delator Paulo Roberto não explicita como uma quantia tão vultosa quanto R$ 30 milhões teria sido incorporada a título de caixa 2 à nossa campanha de 2010. Ele afirmou no seu depoimento que sequer sabia se efetivamente tal pagamento absurdo teria ocorrido. Diz que presumiu que os pagamentos teriam sido feitos porque o ex- governador Sérgio Cabral não teria mais voltado ao assunto com ele. É inacreditável!!!”, escreveu Pezão ao STJ, em março.

Pezão também negou ter participado, em 2010, de reunião em que Cabral, então governador, teria pedido a Costa contribuições com a campanha à reeleição. Há outros dois inquéritos em andamento no STJ relacionados à Lava- Jato: sobre o governador do Acre, Tião Viana, e sobre o ex- ministro Mário Negromonte, hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia.