Delação de lobista do PMDB tratará de envolvimento de políticos

 

RENATO ONOFRE

O globo, n. 29985, 11//09/2015. País, p. 7

 

Apontado como operador do PMDB na Lava- Jato, Fernando Baiano fez acordo de delação e já começou a depor. - SÃO PAULO- Apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras, Fernando Soares, conhecido como Baiano, assinou acordo de delação com a Procuradoria- Geral da República. A informação foi publicada ontem pelo jornal “Valor Econômico” e confirmada pelo GLOBO. O acordo com a PGR prevê, pelo menos, oito temas nos quais Baiano detalhará sua participação no esquema da Petrobras. O lobista, que foi citado pelo delator Julio Camargo como “sócio oculto” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), deve continuar preso na Polícia Federal até novembro quando, pelo acordo, pode ser solto. A delação ainda precisa ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal, pois envolve políticos.

Baiano passou a última quarta- feira prestando depoimentos na sede da PF em Curitiba. Ele já falou sobre três dos oito anexos previstos no acordo. Entre os temas, estão a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e a participação de políticos ligados ao PMDB.

Durante os dois meses de negociações que levaram à colaboração, Baiano adiantou aos investigadores que o pagamento de propinas relativas à refinaria não se deu em 2006, quando a Petrobras comprou 50% da refinaria da Astra Oil, e sim durante as negociações para compra dos outros 50% da empresa a partir de 2008.

Em delação, o ex- diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que Baiano ofereceu US$ 1,5 milhão para “não causar problemas” na reunião de aprovação da refinaria de Pasadena. O pagamento foi feito pelo lobista ao ex- diretor em contas na Suíça. Em seu acordo, Baiano se comprometeu a entregar os comprovantes dos depósitos no exterior.

O acordo de Baiano pode alavancar outra colaboração: a do ex- diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Baiano não soube dar detalhes de como as negociações para a aprovação de Pasadena foram feitas na Petrobras. E Cerveró se comprometeu a entregar dados de como dirigentes participaram do esquema.

Baiano é apontado pelo doleiro Alberto Youssef e outros colaboradores como o operador do PMDB no esquema. Teria sido ele o operador de propinas do principal partido da base aliada do governo Dilma.

PROPINA PAGA AO PT

O empresário Augusto Mendonça Neto, presidente da Setal, confirmou em depoimento à Justiça Federal do Paraná, ontem, o pagamento de propina ao PT através de doações oficiais. Éo 2º delator a admitir ter feito o repasse de recursos ilícitos através de doações. O empresário Ricardo Pessoa, da UTC, já havia admitido.

De acordo com Mendonça Neto, a propina à diretoria de Serviços foi paga de três formas: no exterior, com depósitos na conta Maranelle; em doações oficiais ao PT e em dinheiro vivo, que mandavam retirar em seu escritório. Segundo ele, os depósitos foram feitos por meio do operador Mário Goes, que assinou acordo de delação:

— Goes me passou a referência de uma conta onde fizemos os pagamentos fora. Foram feitos pagamentos em recursos que mandavam retirar no meu escritório e doações oficiais ao PT, a pedido do Renato Duque ( ex- diretor da Petrobras).