Para oposição, decisão da S& P reflete erros sucessivos do governo

 

 Cristiane Jungblut, Júnia Gama, Isabel Braga, Danilo Fariello, Danielle Nogueira, Ronaldo D’Ercole e Cristina Tardáguila

O globo, n. 29984, 10//09/2015. Economia, p. 22

 

A reação à perda do grau de investimento do Brasil, anunciada ontem pela agência de classificação de risco Standard and Poor’s ( S& P), foi forte entre políticos e empresários. A oposição culpou a política econômica do governo Dilma Rousseff e defendeu austeridade nas contas públicas, enquanto na base as opiniões se dividiram: houve quem minimizasse a decisão e até quem culpasse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), disse em nota que o rebaixamento mostra que “o governo da presidente Dilma acabou”. Para o tucano, o fato é um “desastre anunciado”.

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“O Brasil perdeu hoje o grau de investimento fruto de erros sucessivos de política econômica dos últimos seis anos, agravados pelo desvio de recursos públicos e aparelhamento político das estatais”, afirmou o tucano.

LÍDER DO PDT CULPA LEVY

O ex- presidente Fernando Henrique Cardoso ( PSDB) disse que a perda do grau de investimento é consequência do que vem sendo feito pelo governo petista ao longo dos últimos anos.

— Pedra cantada. É uma realidade inquietante — afirmou Fernando Henrique no lançamento de seu livro “A miséria da política”, na Livraria da Travessa do Leblon, no Rio. — É um sinal péssimo. Teremos muita dificuldade de investimento. Mas o pior é que outras agências vão seguir esse caminho.

Para o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), a única maneira de resolver os problemas é retomando o crescimento econômico. Ele ressaltou que “o ajuste fiscal foi feito, o Legislativo colaborou”.

O líder do DEM, Mendonça Filho, lembrou que a população é que vai arcar com as consequências:

— Significará mais ônus para o povo. Significa uma recessão ainda mais profunda e desemprego ainda mais elevado.

Integrante da base de apoio ao governo, o líder do PDT, André Figueiredo ( CE), minimizou o rebaixamento e culpou Levy:

— Isso prova que ele não representa a segurança ao mercado.

Delcídio Amaral ( PT- MS), líder do governo no Senado, disse que o rebaixamento “não é o fim do mundo”. Mas reconheceu que é hora de agir e que não há mais tempo para “testes e lero- lero”. O líder do governo na Câmara, José Guimarães ( PT- CE), também minimizou a decisão da S& P:

— Acha que estou preocupado com uma agência lá do fim do mundo vir dar pitaco aqui no Brasil?

FIESP: SEM SURPRESA

O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira ( CE), disse que o rebaixamento é ruim para o Brasil, mas que isso não derruba governo.

— Não posso acreditar que vocês imaginem que uma agência de avaliação possa derrubar o governo. É uma crise e ela tem que ser ultrapassada.

Já o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia ( RN), ressaltou que os investidores internacionais se afastarão do Brasil:

— Perder o grau significa o início do caos.

Entre os empresários, a reação foi de preocupação com as consequências do rebaixamento para o ambiente de negócios e o acesso ao crédito por empresas brasileiras.

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo ( Fiesp), Paulo Skaf, disse não ter ficado surpreso, uma vez que o país pouco avançou no necessário ajuste das contas públicas:

— O Brasil precisava fazer um ajuste fiscal e cortar gastos, não fez uma coisa nem outra.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria ( CNI), Robson de Andrade, disse em nota que a perda do grau de investimento afetará o país e as empresas de forma negativa. “Tudo ficará mais difícil. As empresas e os bancos terão de pagar mais caro pelos recursos que precisarem captar no exterior".

IMPACTO NAS CONCESSÕES

Para Carlos Eduardo Lima Jorge, presidente da Comissão de Obras Públicas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção ( CBIC), a perda de grau de investimento pode prejudicar a concorrência nas concessões do Programa de Investimento em Logística ( PIL).

— Um forte componente na formação de consórcios nos leilões são, ou seriam, investidores estrangeiros. Vários deles vinham conversando com empresas nacionais, mas o rebaixamento contribui para o redirecionamento de investimentos para outros países.