Levy diz que buscará superávit de 0,7% em 2016

 

MARTHA BECK

WASHINGTON LUIZ 

O globo, n. 29984, 10//09/2015. Economia, p. 23

 

Após a perda do grau de investimento do Brasil, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou em nota que a proposta de Orçamento do ano que vem, enviada ao Congresso com previsão de déficit de R$ 30,5 bilhões, será ajustada para garantir a realização de um superávit primário de 0,7% do PIB.

“O processo para se garantir a meta de superávit primário de 0,7% do PIB em 2016 será completado nas próximas semanas, com o envio de propostas na área de gastos e receitas discutidas com o Congresso Nacional, em paralelo, nos próximos meses, a ações legislativas de caráter estrutural para aumentar a eficiência, previsibilidade e produtividade da economia”, diz o texto.

No fim da noite, em entrevista ao “Jornal da Globo”, Levy afirmou que, para ajustar as contas públicas, será preciso “fazer escolhas”. Segundo ele, “sempre dá para cortar”. E, ao ser perguntado sobre um possível aumento de impostos, Levy disse confiar na compreensão da população:

— Se a gente precisar pagar impostos, eu tenho certeza que a população vai estar preparada para fazer isso, porque é o caminho para gente ter o equilíbrio, poder crescer — disse.

Já o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que a perda do grau de investimento “foi uma surpresa” para o governo. Ele afirmou que a proposta orçamentária enviada ao Congresso é "realista" e que o governo vai tomar medidas para cobrir o rombo, mas não fixou uma meta para economia do governo.

— Nós vamos procurar sempre o resultado primário mais elevado para melhorar a situação fiscal.

Barbosa também destacou que gostaria de dar uma "mensagem de tranquilidade e de segurança".

— Hoje, houve uma mudança da avaliação de risco por parte de uma agência, mas isso não muda a trajetória de recuperação da economia brasileira, de construção de um reequilíbrio fiscal. E mais importante: o governo continua a honrar todos os seus compromissos e contratos.

 

Propor alta de imposto é ‘ atrevimento’, diz empresário

 

ANA PAULA MACHADO 

 

Diante da ameaça de o Brasil ter seu grau de investimento retirado pelas agências de rating, o presidente da MercedesBenz para a América Latina, Phillip Schiemer, cobrou ontem do governo uma posição mais firme para o país ajustar as suas contas. Segundo ele, é fundamental que o governo corte gastos, como fazem as empresas em tempos de crise. Schiemer disse que aumento de impostos não é a solução ideal para resolver o rombo nos cofres públicos, mas, se essa medida for realmente inevitável, ela tem que ser temporária.

— O governo precisa agir como uma empresa: o mercado está ruim, que faça ajustes nos custos fixos. Fazer mais por menos. Acho de um atrevimento propor aumento dos impostos antes mesmo de cortar as despesas. Entretanto, se esse for o remédio amargo de que tanto se fala, que ele seja temporário. Esse sapo nós vamos engolir se tivermos uma previsibilidade, uma agenda positiva para os próximos anos. Faremos todo o sacrifício para o país não perder o grau de investimento. Isso seria um desastre — disse Schiemer, bem antes da S& P retirar o investment grade do país. Com a forte queda nas vendas de caminhões, que até agosto encolheram 43,5% em relação a 2014, a Mercedes no Brasil já reduziu em 20% seus custos fixos em relação a 2014. Entre as medidas de ajuste, está a redução de 10% dos níveis gerenciais. Schiemer afirmou, ainda, que a companhia estuda a reintegração de áreas que foram terceirizadas nos tempos de vacas gordas.

— Outra coisa que fazemos é renegociar com os fornecedores. O reajuste pela inflação acabou. Estamos apertando os parceiros, porque somos apertados pelos clientes. Não podemos repassar o aumento das despesas para os preços dos veículos, porque aí não vendemos mesmo. Além disso, conseguimos um fôlego com a adesão ao PPE ( Programa de Proteção ao Emprego), que vai dar estabilidade de um ano para os funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo ( SP) — disse o executivo.