Título: Reconciliação interna do PP é um fracasso
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2011, Política, p. 3

A divisão na bancada do PP foi explicitada ontem, na segunda reunião marcada pelo atual líder, Aguinaldo Ribeiro (PB), como uma tentativa de pacificar o partido na Câmara. Menos da metade dos 41 deputados compareceu ao evento. O líder anterior, Nelson Meurer (PR), por exemplo, alegou que "tinha uma audiência marcada anteriormente". Nenhum dos deputados ligados a ele foi ao encontro. Já os aliados de Aguinaldo seguem afirmando que apoiam o ministro das Cidades, Mário Negromonte, mas não fazem um gesto explícito de aproximação, como uma visita à pasta ou uma reunião no parlamento com a presença do ministro ¿ esperam para ver se o pepista terá fôlego para seguir na Esplanada.

Aguinaldo Ribeiro convidou todos os deputados para o almoço na liderança do partido na Câmara. A intenção era definir um pacto de relacionamento mútuo e discutir questões pontuais, como uma saída para resolver o impasse diante de dois deputados da legenda que desejam disputar uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Mas o quórum presente, ao longo de todo o evento, atingiu 20 deputados.

Meurer afirmou que não tem nenhuma restrição pessoal a Aguinaldo. Justificou sua ausência com uma agenda externa marcada anteriormente e que não havia como ser transferida. Mas disse que não fazia sentido sua presença no evento. "Da maneira como eu fui retirado da liderança, não há como eu me abraçar com eles dois dias depois", justificou ao Correio. O ex-líder reclamou, no entanto, que o PP está sendo vítima de um ataque programado. "Deixem o partido em paz, estamos apanhando há 10 dias seguidos", reclamou.

Uma das articuladoras da lista que alçou Aguinaldo Ribeiro ao cargo de líder do partido na Casa, a deputada Iracema Portella (PI) afirmou que o quórum do encontro foi prejudicado pela data. Segundo ela, na terça-feira, muitos parlamentares, especialmente do Sul do país, têm dificuldades para deslocar-se para Brasília. "Tanto que estamos pensando em alterar a próxima reunião para quarta, quando a maior parte dos deputados estará na cidade", completou.

Mas Iracema não deixa de provocar a gestão anterior. Uma das justificativas dadas pelo grupo que destituiu Meurer é que a bancada, em oito meses de governo Dilma, não havia se reunido uma vez sequer. "Estamos vivendo um novo momento, mais democrático. Um líder de partido precisa entender que não pode resolver tudo sozinho", alfinetou.

O distanciamento em relação a Negromonte também permanece. Depois da entrevista dada por ele à imprensa afirmando que alguns deputados da bancada "tinham ficha corrida", nenhum representante do partido na Câmara conversou com o ministro. No dia em que a entrevista foi publicada, não houve correligionários a defendê-lo em plenário. Negromonte tentou arquitetar um jantar de apoio, mas os parlamentares não toparam.

Por temer que o PP se transforme em um novo PR, perdendo a pasta das Cidades, o novo comando do partido na Câmara optou por não bater muito no ministro, esperando pela reforma ministerial de verão, quando Dilma deverá promover mudanças na composição da Esplanada.