Título: Sardinhas para alimentar os tubarões
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2011, Economia, p. 8

Depois de o governo sinalizar que este ano será de economia e poucos reajustes, representantes de trabalhadores decidiram que, se não há recursos para aumentar os salários do funcionalismo, a máquina pública precisa ceder em outra ponta, a dos juros básicos. No primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que irá definir a Selic, a Força Sindical promoveu uma "sardinhada" em frente à sede do Banco Central para reivindicar a queda das taxas. Na ocasião, foram assados e distribuídos 100kg de sardinhas para cerca de 50 manifestantes.

O presidente da organização, Paulo da Silva Pereira, explicou a escolha do peixe. "É comida de pobre, de tubarão e fede. É para mostrar que não conseguimos comprar mais que isso com a taxa neste patamar. Os tubarões são aqueles que estão trancados lá dentro, decidindo o futuro do país", disse.

Luciano Lourenço, integrante do Sindicato dos Químicos de São Paulo, desfilou com uma máscara imitando o rosto do presidente do BC, Alexandre Tombini.

O grupo simulou aplicar uma "vacina antijuros" no personagem, com um manifestante vestido de médico manipulando uma seringa.

Com o slogan "menos juro, mais emprego", os sindicalistas reclamaram da elevada taxa em vigor no Brasil, uma das maiores do mundo. "Precisamos que ela baixe para aumentar a produção, ter mais desenvolvimento e mais emprego. Não concordamos com a elevação do superavit primário (economia destinada ao pagamento de juros da dívida)", disse o presidente da Força. Representantes sindicais de vários estados participaram da manifestação.

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e também dos Aposentados, José Francisco Campos, disse que outras questões estão envolvidas na briga pela diminuição da taxa. "O aumento real do piso dos aposentados já foi vetado e, com o juro cada vez maior, a classe tem o poder aquisitivo bem reduzido", justificou.

Quem passava pelo local também pôde experimentar sardinhas assadas, com direito a farofa. O carpinteiro José Batista, 72 anos, trabalhava por perto e resolveu participar. "Não tinha almoçado e aproveitei para comer aqui. O peixe está uma delícia", disse, satisfeito. "Tiro o chapéu para todos eles, que tiveram coragem de protestar. O brasileiro comum, aquele que não fica no ar condicionado, também merece ser ouvido pelas autoridades", opinou.