No G-20, Levy mostrará oportunidades para investimento

 

ELIANE OLIVEIRA

O globo, n. 29979, 05/09/2015. Economia, p. 21

 

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, desembarcou ontem em Ancara, capital da Turquia, onde participa, hoje, da reunião de ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo. Segundo fontes próximas ao ministro, Levy considera crucial explicar pessoalmente aos participantes o que está acontecendo na economia brasileira.

ADEM ALTAN/AFPInfraestrutura. Ao lado do presidente do BC turco, Erdem Basci; Lagarde, do FMI, ressaltou a importância dos investimentos

Rumores sobre sua saída, a persistência de uma grave crise política no governo Dilma Rousseff e indicadores econômicos ruins, como a queda no Produto Interno Bruto (PIB) e o aumento do desemprego, afetam negativamente a imagem do Brasil. O ministro vê na reunião uma oportunidade para dissipar dúvidas e mostrar que o país está aberto e oferece segurança para receber investimentos.

Levy começou o ano celebrado pela comunidade internacional e apontado como solução dos problemas da economia brasileira pelas autoridades com quem conversou no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, em janeiro. O quadro agora mudou. Ele ainda é respeitado, mas chega à cúpula do G-20 num novo contexto. Tornou-se um ministro enfraquecido num governo que não tem adotado suas ideias e corre o risco de deixar o cargo a qualquer momento.

— O ministro é adorado na comunidade internacional, mas chega ao G- 20 com um governo posto em dúvida — disse um interlocutor.

Oficialmente, a reunião ministerial de Ancara tem o objetivo de preparar o encontro de chefes de Estado do G-20, marcado para novembro deste ano, também na Turquia, na cidade de Antalya, no sul do país. Não está prevista no evento a tomada de decisões sobre este ou aquele tema, mas a reunião é esperada com ansiedade pelos participantes, dado o cenário da economia mundial.

Os ministros da China e dos Estados Unidos, por exemplo, deverão dar explicações sobre a situação de suas economias, o câmbio, o crescimento do consumo das famílias, entre outros indicadores. Particularmente, os EUA deverão esclarecer, por exemplo, como está o processo de negociação com o Congresso americano para um mandato permitindo que Washington tome decisões sobre a reforma dos organismos multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional ( FMI). Outro ponto de atenção é a crise na Grécia.

Do lado brasileiro, Joaquim Levy e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, explicarão as medidas que foram adotadas nas áreas monetária e fiscal. Falarão ainda do novo programa de investimentos em infraestrutura e logística.

A agenda de Levy, divulgada ontem pelo Ministério da Fazenda, prevê a participação do ministro em uma série de debates ao longo do dia. Estrutura para um crescimento forte, sustentável e equilibrado, investimento em infraestrutura, arquitetura financeira mundial e questões tributárias internacionais estão no roteiro, que terminará com a assinatura de um comunicado.

No domingo, Levy embarcará para Madri, onde terá encontros, em separado, com o ministro de Economia e Competitividade da Espanha, Luiz de Guindos, e da Fazenda e Administração Pública, Cristóbal Montodo. Ele também participará do Fórum El País, sob o tema “Infraestrutura, o estímulo da economia brasileira” e almoçará com empresários espanhóis.

À noite, Joaquim Levy segue para Paris, onde participa de reuniões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entre as atividades previstas em sua agenda, na terça-feira, consta também reunião com empresários e um encontro bilateral com o ministro das Finanças e das Contas Públicas da França, Michel Sapin. Levy retornará ao Brasil no mesmo dia.

INVESTIMENTOS EMPERRADOS

Em conferência paralela ao encontro do G-20, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, ressaltou a importância dos investimentos em infraestrutura. Segundo ela, a cada 1% do PIB investido em infraestrutura, o crescimento dos países ricos aumenta em 0,4 ponto percentual no mesmo ano e em 1,5 ponto percentual após quatro anos.