Propina garante decoração luxuosa

 

RENATO ONOFRE, THAIS SKODOWSKI* E TIAGO DANTAS

O globo, n. 29981, 07/09/2015. País, p. 5

 

Condenado no mensalão do PT, o ex-ministro José Dirceu e 16 acusados foram denunciados pela Lava-Jato por corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Para o MP, reforma de R$ 1,8 milhão na casa de Dirceu teria usado dinheiro de propina do escândalo na Petrobras. Apropina recebida pelo ex-ministro José Dirceu, preso em Curitiba por conta da Lava-Jato, possibilitou uma reforma sem restrição orçamentária em uma de suas casas. Ao todo, R$ 1,8 milhão foi gasto na obra e na decoração do imóvel de Vinhedo, em São Paulo. Sem precisar poupar, a arquiteta contratada comprou parte da mobília da sala — conjunto de sofá, poltronas, mesas de centro e aparador — por R$ 140 mil. Além disso, pagou R$ 31 mil por persianas, R$ 5,4 mil por um tapete, mais de R$ 8 mil em dois pufes e até R$ 13,9 mil por quatro aparelhos de TV. Os gastos da obra realizada em 2013 apareceram nas notas fiscais entregues ao Ministério Público Federal (MPF) por Daniela Facchini, responsável pela obra e indicada pelo lobista Milton Pascowitch.

DIVULGAÇÃO/ PFRiqueza. Sala da casa de Dirceu: obra paga pelo lobista Milton Pascowitch reunia propina dada por três empresas

Acusado de receber R$ 11,8 milhões de propina por meio de contratos fictícios com sua empresa de consultoria, aluguéis de aeronaves e compra e reforma de imóveis, Dirceu foi denunciado ontem pelo MPF pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Além do ex-ministro, outras 16 pessoas foram denunciadas e acusadas de fazer parte de um esquema de corrupção que movimentou R$ 60 milhões em propinas. Na lista do MPF estão o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, executivos da Engevix e a arquiteta responsável pela reforma do imóvel, que foi acusada de lavagem de dinheiro.

Em depoimento prestado à Polícia Federal (PF) em agosto, Daniela disse que conhece Pascowitch há 5 anos e que, em 2013, foi procurada por ele para fazer a reforma e a decoração da casa de Vinhedo. Embora o imóvel estivesse registrado em nome da empresa TGS, de Julio Cesar dos Santos, Daniela sabia que seria utilizado pelo ex-ministro. Para a PF, Santos foi utilizado por Dirceu como laranja para “ocultar bens”.

Daniela declarou aos policiais que recebeu R$ 1,8 milhão de Milton Pascowitch para fazer o serviço. Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, o lobista pagou a reforma para Dirceu como forma de propina por contratos que as empresas Hope, Personal e Engevix conseguiram com a Petrobras.

Ontem, o procurador Deltan Dallagnol disse esperar que Dirceu pegue pena “maior que 30 anos de prisão”. E contou que o Supremo pediu informações sobre o ex-ministro e que, com esses dados, pode julgar a regressão da pena que Dirceu já cumpre pelo mensalão. Ele estava em regime aberto.

— A expectativa é que uma pessoa que praticou crimes tão graves e que lesou tanto nosso país pegue pena maior que 30 anos de prisão.

Dallagnol lembrou que Dirceu foi um “importante líder político”:

— Não está em questão quem foi José Dirceu ao longo da História, o que ele fez pela consolidação da democracia no nosso país. Mas se ele praticou fatos que são crimes em um contexto determinado. As provas, as evidências dizem que sim.

Pessoas próximas ao petista foram denunciadas: Roberto Marques, apontado como braço-direito; Luiz Eduardo de O. e Silva, irmão e sócio, e Camila Ramos de O. e Silva, filha do ex- ministro. O advogado Roberto Podval, que defende Dirceu, disse que não foi intimado e que apresentará os argumentos da defesa no prazo.

QUEIROZ GALVÃO NEGA PAGAMENTOS ILÍCITOS

Depois da PF afirmar que a propina paga ao deputado Nelson Meurer (PP-PR) foi mascarada de doação eleitoral pela Queiroz Galvão, a construtora disse ontem que “nega qualquer pagamento ilícito para obtenção de contratos ou vantagens. A companhia reitera que todas as atividades seguem rigorosamente a legislação vigente e suas doações estão de acordo com as leis eleitorais”.