Dilma e Temer têm encontro protocolar e pouco conversam

 

CATARINA ALENCASTRO E CRISTIANE JUNGBLUT 

O globo, n. 29982, 08/09/2015. País, p. 4

 

Um beijinho ao chegar no palanque e poucas palavras. O encontro da presidente Dilma Rousseff com o vice Michel Temer durante o desfile do 7 de Setembro foi protocolar. O clima meramente formal entre a petista e o presidente do PMDB ficou evidente não apenas pela linguagem corporal dos dois, ao longo das quase duas horas em que permaneceram lado a lado assistindo à apresentação militar, mas também pela ausência de ministros peemedebistas. Dos sete ministros da legenda, apenas um compareceu: Hélder Barbalho, da Pesca.

ANDRE COELHODistanciamento. Temer e Dilma durante o desfile do Dia da Independência: em quase duas horas, presidente e vice conversaram rapidamente duas vezes

Até sexta- feira, Michel Temer não havia definido se iria ao 7 de Setembro. Durante o fim de semana, no entanto, o vice decidiu comparecer para explicitar a imagem de que não está rompido com a presidente. Ele chegou a Brasília no fim da tarde de domingo. Ontem, depois de acompanhar o desfile ao lado de Dilma, o vice foi para o Palácio do Jaburu, sua residência oficial, e não falou mais com a presidente.

Ministros petistas tentaram minimizar as ausências de peemedebistas e o distanciamento da presidente e seu vice durante o evento. Temer foi o primeiro a beijá- la, logo que Dilma desceu do Rolls- Royce que a levou ao palanque. Mas, depois disso, os dois só conversaram duas vezes ao longo do desfile, ambas rapidamente. Primeiro, Dilma dividiu com ele o programa da apresentação e eles trocaram algumas palavras. Depois, ela comentou com o vice algo sobre a pirâmide humana que o batalhão de polícia do Exército de Brasília formava sob a arquibancada onde estavam.

Ao lado de Temer, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, intercedeu algumas vezes, puxando os dois para uma conversa. Dilma, no entanto, parecendo ignorar o vice, passou o braço por cima dele e cutucou Wagner para comentar algo.

Após o desfile, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, não quis polemizar sobre a relação de Dilma com Temer, afirmando que o vice é leal e comprometido com o governo.

— A relação é boa. O vice soltou uma nota muito firme, muito explícita de qual é a sua postura em relação ao governo e à presidente Dilma e o respeito que o presidente Temer tem à institucionalidade do país. Tem tido ao longo de todos esses anos a postura de compromisso, lealdade e diálogo com o conjunto das forças políticas que integram o governo — declarou.

Ao lado da presidente estavam também dois ministros que estão sendo investigados pelo Supremo Tribunal Federal: Edinho Silva ( Comunicação Social) e Aloizio Mercadante ( Casa Civil). Edinho disse que Temer é o símbolo da união do PT com o PMDB e que a relação do governo com o seu maior aliado é honesta e transparente.

— ( Temer) tem sido muito correto com a presidente Dilma, muito leal e tem trabalhado muito para a construção de um ambiente político para que o Brasil supere as dificuldades e que a gente volte a fazer a economia crescer o mais rapidamente possível — afirmou Edinho.

Dos sete ministros do PMDB, não compareceram Katia Abreu ( Agricultura), Eduardo Braga ( Minas e Energia), Henrique Eduardo Alves ( Turismo), Eliseu Padilha ( Aviação Civil), Mangabeira Unger ( Secretaria de Assuntos Estratégicos) e Edinho Araújo ( Portos). Também não estavam presentes os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), e do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL).

“CLIMA BOM PARA MELHORAR”

Jaques Wagner foi ainda mais longe na defesa da relação com o PMDB. Tentando cumprir o papel de bombeiro, o ministro saiu em defesa até da afirmação feita por Temer no fim da semana passada de que seria difícil Dilma resistir a mais três anos de governo com uma popularidade tão baixa.

— Pessoalmente, não tenho constrangimento e continuo assinando embaixo das declarações dele. (...) As pessoas quiseram dar conotação diferente. A fala dele foi o óbvio. Se alguém lhe pergunta: é tranquilo ter 7%. 8% de popularidade? Não, não é — disse o ministro, acrescentando:

— É óbvio que nós, todas as pessoas que estão no governo, estamos trabalhando para que a popularidade e a aceitação do governo cresça. Ninguém acha bom ter 7%,8%, 9% ( de popularidade). Tenho certeza de que dá para terminar ( o governo), porque já, já a gente começa o processo de recuperação.

Ao ser perguntado como estava o clima entre o PMDB e o governo, o ministro brincou:

— Acho que ( o clima) está bom para melhorar.

 

Fábio Jr. xinga Lula e critica ‘ roubalheira’

 

Ocantor Fábio Jr. usou uma de suas apresentações no exterior no último domingo para protestar contra a “roubalheira” e a “quadrilha” que, segundo ele, está no poder no Brasil. Em um discurso repleto de palavrões e ofensas à presidente Dilma Rousseff e ao ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cantor subiu ao palco da 31 ª edição do Brazilian Day, em Nova York, e fez um apelo direto a Dilma e Lula, além de se referir ao PMDB e ao ex- ministro da Casa Civil José Dirceu, preso no início de agosto na 17 ª fase da Operação Lava- Jato:

— Vocês não têm mais o que fazer não, p...!? — gritou, ao citálos nominalmente e ser correspondido com gritos e aplausos da plateia.

O vídeo da apresentação com críticas e xingamentos ao governo circula nas redes sociais desde anteontem e viralizou na internet, tendo milhares de compar tilhamentos ao longo do dia.

Vestido de preto e enrolado em uma bandeira do Brasil, o cantor disse aos presentes ter “vergonha alheia” de ver os governantes brasileiros “metendo a mão”.

— O que está escrito na nossa bandeira? Ordem e progresso. Vocês sabem o que está acontecendo no Brasil, não é? Desordem e roubalheira. É uma quadrilha. Eu tenho o maior orgulho de vestir essa bandeira. Mas às vezes eu tenho vergonha alheia de ver os nossos governantes lá. Todo mundo roubando. Todo mundo metendo a mão. E eu querendo ser brasileiro, querendo agradecer, onde eu nasci, o país que eu acredito — bradou Fábio Jr.

Muito aplaudido, o cantor estendeu a mão com o microfone em direção à plateia, enquanto um coro hostil à presidente Dilma podia ser ouvido:

— Ei, Dilma, vai tomar no c...

Animado, Fábio Jr. respondeu aos gritos:

— Vocês sabem onde está aquele dedinho que o Lula pegou, né, onde ele enfiou? No nosso c.... E dói para c.... É uma pena, uma judicação. Um país como o Brasil, a extensão territorial que tem. Um povo bacana para caramba, do bem. E a gente ser tão sacaneado, dói pra caramba. Mas depende de cada um de nós. Vamos mudar essa p...

O Planalto preferiu não comentar as declarações de Fábio Jr.