‘Certeza de que não serão denunciados’, diz Cardozo

 
CRISTIANE JUNGBLUT E CATARINA ALENCASTRO
O globo, n. 29982, 08/09/2015. País, p. 5
 

Ministros saíram ontem em defesa de Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social, e de Aloizio Mercadante, da Casa Civil, que passaram a ser alvo de investigação no Supremo. Para eles, não há constrangimento no fato de Edinho e Mercadante continuarem nos cargos. Os dois foram citados na delação de Ricardo Pessoa, dono da UTC, e o Ministério Público Federal pediu abertura de investigação para apurar doações de campanha em 2010, no caso de Mercadante, e em 2014, no caso de Edinho, que era o tesoureiro de Dilma.

Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo disse que não há desconforto no governo com a situação e que ambos devem permanecer como ministros:

— Tenho absoluta certeza de que não serão denunciados, porque sei do papel que os dois têm e da lisura com que se comportam. Diria que não há desconforto nenhum. O inquérito é uma situação normal. O que há é uma delação premiada. Isso tem que ser apurado, faz parte da democracia, do estado de direito. Agora, prejulgar pessoas é absolutamente injusto, incorreto.

Cardozo disse ainda que essa situação não está sendo considerada na reforma ministerial. E, ao comentar a conversa que teve com a presidente Dilma, o ministro lembrou que há nomes da oposição sendo investigados:

— Conversei rapidamente ( com Dilma). Minha posição expressa a convicção de todos, de que não é possível que coloquemos inquéritos num papel que não seja aquele de esclarecer fatos. O governo sempre respeita a autonomia da investigação. Não importa que se julgue necessário apurar fatos que foram levantados contra parlamentares da oposição ou colocados em relação a pessoas que são vinculados ao governo. A apuração tem que seguir e segue. É da democracia.

Ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini também afirmou que a investigação não causa constrangimento ao governo:

— Não é denúncia, não é sequer o acatamento de denúncia. Tem que ser tratado com tranquilidade.

O ministro da Defesa, Jaques Wagner, fez o mesmo:

— Enquanto for investigação, não vejo problema. Se fosse denúncia, era diferente.

Ontem, Edinho disse que cumpriu orientações de Dilma e agiu com legalidade, moral e ética.

— Defendo o processo de apuração, não tenho medo da verdade. Estou convicto de que fiz aquilo que precisa ser feito em uma campanha, seguindo a ética, a moral e a legalidade.

O ministro disse ter conversado com Dilma e que a presidente “tem plena confiança” nele. Edinho também admitiu ter se encontrado com Ricardo Pessoa:

— É impossível eu ou outro tesoureiro não ter tido contato com o Pessoa. Conversar não significa que cometeu ilegalidade. A meu favor, pesa o testemunho dos outros empresários com quem eu dialoguei a campanha toda. Conversei com dezenas, e ninguém ouviu isso de outro empresário.

 

Alckmin: campanha de Dilma no centro da Lava-Jato

 

A abertura de investigações contra os ministros petistas Edinho Silva e Aloizio Mercadante colocaram a campanha da presidente Dilma Rousseff no centro da Operação Lava- Jato, segundo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin ( PSDB).

Após acompanhar o desfile de 7 de Setembro, ontem, na capital paulista, o governador de São Paulo subiu o tom das críticas ao governo federal. Alckmin disse que a República não aceita “rapinagem”, “mentira” nem aumento da desigualdade e do desemprego. Ele colocou no governo a culpa pela crise econômica e criticou o ajuste fiscal.

Ao ser perguntado se a abertura das investigações contra Edinho e Mercadante leva a campanha da presidente Dilma para o centro das investigações da Lava- Jato, Alckmin respondeu que sim:

— Entendo que sim. É investigar de maneira profunda, seriamente, rapidamente e, depois, cumprir a Constituição.

Quando a pergunta foi sobre o inquérito contra Aloysio, Alckmin afir mou que não tem como alguém da oposição ter influência sobre a Petrobras:

— Todos são iguais perante a lei. Ele ( Aloysio) já se defendeu, e não tem nenhum sentido um dos principais líderes da oposição ter ascendência sobre a Petrobras ou o governo.

“FALÊNCIA POLÍTICA”

Alckmin declarou, ainda, que a crise que o país atravessa mostra a “falência da política” e defendeu reformas no sistema político brasileiro, que, em sua opinião “está totalmente esgotado”. Por outro lado, disse estar animado com o fato de que o país esteja investigando crimes de colarinho branco:

— Há uma enorme de uma insatisfação, uma crise gravíssima, porque é uma “policrise”: você tem uma crise ética, econômica, política.

Ao ser questionado se Michel Temer ( PMDB) ser ia uma opção para reunificar o país, Alckmin declarou que o vice- presidente “tem todas as qualificações”, mas lembrou que, em sua opinião, a crise é governista e também estrutural:

— Uma grande crise econômica, ocasionada pelo governo, onde o governo não é a solução. Ele é o início da crise.