PMDB vai às eleições municipais de olho no Planalto

 

FERNANDA KRAKOVICS 

O globo, n. 29980, 06/09/2015. País, p. 11

 

Com o intuito de viabilizar uma candidatura própria à Presidência da República em 2018, o PMDB quer deixar de ser o partido dos grotões e, nas eleições municipais do ano que vem, pretende investir fortemente em cidades médias e grandes. Uma das principais apostas é a ex-petista Marta Suplicy, que chega ao PMDB com o objetivo de se candidatar à prefeitura de São Paulo. Sua filiação está marcada para o próximo dia 26.

— O PMDB tem o maior número de prefeitos, mas a maioria é de cidades com até cem mil habitantes. Isso dá capilaridade ao partido, mas não sustenta uma candidatura à Presidência da República — explica um integrante da cúpula do PMDB.

Líder do partido na Câmara, o deputado Leonardo Picciani (RJ) não considera a conquista de prefeituras de cidades maiores um fator “determinante” para o lançamento de um candidato do PMDB à Presidência. Porém, diz que essas vitórias pavimentariam um caminho para o Planalto:

— O PMDB faz esse movimento. A filiação da Marta Suplicy é para viabilizar isso no maior colégio eleitoral do país.

Sem candidato a presidente da República desde 1994, o PMDB ensaia quebrar o jejum em 2018. Defensores da candidatura própria afirmam que lançar um nome é essencial para dar vitalidade ao partido, conhecido por sempre apoiar o governo. A dificuldade é unir a legenda, composta por muitos caciques regionais. Um nome bem cotado é o do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que passará pelo teste da realização das Olimpíadas de 2016. O do vice-presidente Michel Temer também é considerado.

Além de Marta Suplicy, o partido tentou atrair o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que é aliado do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG). No entanto, as negociações não prosperaram. Mas, se o candidato do PMDB for Paes, haverá uma possibilidade de o carioca receber o apoio de ACM Neto, pela proximidade entre os dois.

Na Bahia, os peemedebistas terão um candidato considerado competitivo em Vitória da Conquista: o deputado estadual Herzem Gusmão, que foi para o segundo turno na eleição passada. Mas o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) não concorda com a estratégia da cúpula do PMDB de usar as eleições municipais como plataforma para a disputa presidencial:

— O que segura eleição para presidente não é prefeito. Já sofremos isso com Ulysses Guimarães e Orestes Quércia. Você pode ter o prefeito e ele não apoiálo. Prefeito é cabo eleitoral para deputado, mas não para eleição majoritária, pois não controla o voto para governador, senador ou presidente. Nesses casos, o povo vota em quem quer e o prefeito não vai ficar contra ele. Então, acaba liberando.

 

Meta para o Rio: repetir as conquistas e ganhar terreno

 

No Estado do Rio, além da capital, o PMDB tem as prefeituras de Nova Iguaçu e Volta Redonda entre as cidades com mais de 200 mil eleitores. O partido promete trabalhar duro para mantê- las, e também estabeleceu como prioridade a conquista de Duque de Caxias, Petrópolis e Campos. Nesta última, reduto da família Garotinho, o PMDB pretende lançar a candidatura do deputado estadual Geraldo Pudim, ex-aliado do clã e, por enquanto, filiado ao PR. O partido ainda negocia a filiação do prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PT), que é aliado do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

No âmbito federal, o partido já começou um processo de distanciamento do governo. Em uma palestra para empresários de São Paulo na última quinta-feira, o vice-presidente Michel Temer, que é presidente do PMDB, afirmou que será difícil Dilma Rousseff resistir até o fim do mandato caso sua popularidade continue em baixa, como indica as últimas pesquisas.

CAMPANHA PELA TV

Em comerciais de TV exibidos na semana passada, o PMDB adotou uma linha de descolamento do governo Dilma. Em uma das propagandas, Temer diz que o Brasil vive tempos difíceis:

— O momento pede equilíbrio, o momento pede grandeza, e de todos. A hora é de diálogo, de ouvir, de reunificar a sociedade. O Brasil é um só e sempre será maior e mais importante do que qualquer governo. Essa é a verdade.

No comercial, o vice-presidente repete o mesmo tom adotado no início de agosto, quando alertou que a crise era grave e que “alguém” precisava reunificar o país. A afirmação acendeu a luz amarela no entorno de Dilma. Auxiliares da presidente passaram a acusar Temer de conspirar para derrubá-la.

Em outra peça publicitária, o ex- ministro Moreira Franco diz que “a nação quer mudar, a nação deve mudar, a nação vai mudar”. Lideranças do PMDB afirmam que as propagandas foram produzidas quando o clima reinante era de impeachment. A pressão diminuiu, mas o partido não ajustou o tom de sua campanha.