Dólar vai a R$ 3,762, nova máxima em 13 anos

 

ANA PAULA RIBEIRO

O globo, n. 29977, 03//09/2015. Economia, p. 21

 

Depois de alcançar a maior cotação desde dezembro de 2002, analistas acreditam que dólar comercial poderá chegar aR$ 4, diante da piora no quadro fiscal - SÃO PAULO- Com a atual escalada do dólar, os agentes do mercado financeiro já apostam que, a curtíssimo prazo, a moeda americana chegue aR$ 4, o que não ocorre desde outubro de 2002. Com o ritmo, há quem espere que essa marca seja atingida ainda este mês — os operadores mais pessimistas acreditam que isso ocorrerá já nos próximos pregões. Ontem, o dólar encerrou a R$ 3,762, alta de 2,06%, a maior cotação de fechamento desde os R$ 3,79 de 12 de dezembro de 2002. Nesta semana, a valorização é de 5,7%.

RICARDO MORAES/ REUTERS/ 31- 8- 2015Trajetória ascendente. Homem deixa uma casa de câmbio no Rio: dólar turismo já supera R$ 4

Essa alta está atrelada ao desconforto do mercado com a atual situação fiscal do país, com gastos acima das receitas, e a instabilidade na área política, que dificulta a aprovação de medidas do ajuste fiscal que poderiam evitar a perda do grau de investimento. A avaliação de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está isolado no governo aumentou a volatilidade do mercado.

—Éo lado político que está fazendo o dólar andar. O setor externo está contribuindo muito pouco para essa alta nesta semana — disse Italo Abucater, gerente de câmbio da corretora Icap do Brasil.

OPÇÕES PARA SEGURAR A MOEDA

O patamar atual do dólar já passou com folga as projeções das instituições financeiras para o fim do ano, que estão em R$ 3,50 — o que não significa que, até lá, as cotações não possam ceder. Mas, em levantamento da Correparti Corretora de Câmbio com 14 bancos e corretoras, apenas o Votorantim vê a moeda aR$ 4.

— Nossa projeção para o fim do ano é R$ 3,50, e isso não mudou. Mas, quando se fala no curtíssimo prazo, o dólar está subindo mais de 1% ao dia, então é de se esperar que chegue a R$ 4 se não houver alguma medida do Banco Central. Se o governo pretende, de alguma forma, conter esse viés inflacionário, tem de conter a desvalorização da moeda — afirmou Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora de Câmbio.

Silva não é o único que acredita que o BC terá de agir para mudar esse quadro. Entre as opções, além de manter os juros em um patamar elevado, estão a emissão de novos estoques de swap cambial ( que equivalem a uma venda futura de moeda), o uso das reservas cambiais ou algum tipo de tributação que encareça as operações no mercado futuro. Destas, a oferta de novos contratos de swap é praticamente descartada por agentes do mercado, já que o estoque desse instrumento já está em US$ 104 bilhões, e o governo já sinalizou que o ideal é reduzi- lo.

O uso das reservas cambiais, hoje em US$ 370,7 bilhões, divide opiniões. Quem defende o instrumento acredita que é possível conter a escalada da moeda com menos de 10% desse estoque. Outros argumentam que, enquanto Levy for ministro, isso não ocorrerá, já que, no fim de janeiro, ele deixou claro que o câmbio no Brasil era flutuante.

— Já não acho tão fora de cogitação o BC utilizar algo das reservas internacionais, que são grandes. Não tem como convergir para o centro da meta de inflação de 4,5% com esse câmbio — afirmou Cleber Alessie, operador da mesa de câmbio da corretora H. Commcor.

Alessie lembra que a busca por proteção ( hedge), que faz o dólar subir, está atrelada ao temor da perda do grau de investimento e que, neste momento, os fundamentos da economia contam pouco. Por isso, a alta ocorre apesar de a taxa básica de juros ( Selic) estar elevada e de haver fluxo positivo de moeda estrangeira.

— É uma questão de proteção contra o rebaixamento, contra o agravamento da questão política e uma economia que pode se depreciar. Além disso, o anúncio de déficit fiscal no ano que vem pegou muito mal. O governo tentou ser transparente, mas isso não ajudou — disse Alessie.

MAIS TRIBUTO AUMENTARIA DESCONFIANÇA

O Brasil está um grau acima do nível especulativo na Moody’s e na Standard & Poor’s e dois acima na Fitch, que deve fazer uma revisão da nota em breve.

A terceira opção para conter a alta do dólar seria algum tipo de tributação sobre operações de derivativos no mercado futuro. Isso atingiria não só quem quer fazer hedge, mas quem especula.

— A alternativa mais viável seria algo do ponto de vista fiscal, como a tributação dos derivativos. Isso reduziria o apetite pelo mercado futuro — disse Silva, da Correparti.

Quem é contra argumenta que a medida atingiria investidores estrangeiros, o que poderia aumentar a desconfiança em relação ao país.

— Sinalizar uma mudança da regra do jogo, como aumento de IOF ou restrição para a saída de recursos, poderia acelerar ainda mais a piora das expectativas em relação ao Brasil — disse Fernando Aldabalde, sócio da gestora Áquilla Asset.

 

Quem vai viajar pode desembolsar mais de R$ 4,20

 

ALINE MACEDO

 

O dólar turismo em espécie ultrapassou a barreira dos R$ 4 na tarde de ontem no Rio, na esteira do avanço da cotação da divisa no mercado financeiro. No cartão pré- pago, quase todas as casas de câmbio e corretoras pesquisadas pelo GLOBO já ofereciam a moeda acima desse patamar, chegando a R$ 4,276. Os valores já incluem o Imposto sobre Operações Financeiras ( IOF), que é de 0,38% para o papel e de 6,38% no plástico. O euro também acompanhou a tendência de alta, chegando a ultrapassar os R$ 4,50, com IOF.

Na Cotação, o dólar em espécie fechou em R$ 4,005. No cartão pré- pago, saiu por R$ 4,202. Já o euro foi vendido a R$ 4,507 em papel- moeda e R$ 4,744 no plástico. Na Western Union, as cotações eram de R$ 3,944 e R$ 4,142, respectivamente. O euro ficou por R$ 4,406 em espécie e R$ 4,60 no cartão.

O Itaú apresentou as taxas mais altas, com o dólar vendido a R$ 4,035 ( espécie) e R$ 4,276 ( plástico). Já o euro fechou em R$ 4,527 em espécie e R$ 4,797 no pré- pago. No Bradesco, os valores cobrados pela moeda americana foram de R$ 3,965 em espécie e de R$ 4,159 no pré- pago. O euro saiu a R$ 4,456 e R$ 4,67, respectivamente. Já no Banco do Brasil, o papel- moeda do dólar foi vendido a R$ 3,824, e o cartão, a R$ 3,90. O euro fechou em R$ 4,296 e R$ 4,42, respectivamente.