Título: "Foi a vitória do véu", diz PSol
Autor: Tahan, Lilian; Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2011, Política no DF, p. 24

Na avaliação de muitos deputados, o corporativismo e o voto secreto foram elementos fundamentais para a absolvição de Jaqueline Roriz (PMN-DF) no plenário da Câmara. Apesar do placar dilatado a favor da parlamentar, a maioria dos pares que aceitaram fazer uma análise do resultado do julgamento ocorrido na noite de ontem votou pela condenação da colega. Eles demonstraram desapontamento com o veredicto e disseram ser preciso mudar o regimento. "Foi a vitória da covardia, do véu, da máscara para acobertar a corrupção", disse o líder do PSol, Chico Alencar (RJ), autor da denúncia que deu origem ao processo.

O parlamentar destacou a postura dos colegas durante o julgamento. Para ele, quando o tema foi discutido abertamente no plenário, a maioria defendeu a cassação. "Apenas um deputado fez a defesa da manutenção do mandato dela, enquanto outros quatro encaminharam a favor do relatório do Conselho de Ética. Além disso, cinco partidos com representatividade na Casa orientaram suas bancadas e disseram sim ao relatório, os outros ficaram em silêncio."

Correligionário de Alencar e adversário de Joaquim e Weslian Roriz nas eleições do ano passado, Antônio Carlos de Andrade, o Toninho do PSol, criticou a decisão do Parlamento. "Esse resultado envergonha a nação brasileira, a figura do político. Agora, vale tudo, dinheiro na cueca, financiamento de bicheiros, de contraventores aos processos políticos", disparou o ex-candidato ao Palácio do Buriti.

Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), Jaqueline Roriz aproveitou a oportunidade de discursar no púlpito para fazer uma "ameaça velada" aos colegas e conseguiu êxito devido ao voto secreto. "Ela disse que os outros podiam estar no lugar dela no futuro. Foi um acinte e deu certo. A deputada vestiu o manto da vítima, mas não fez qualquer tipo de defesa quanto ao fato em si. Ela não disse que não houve corrupção", afirmou a petista.

Outro representante do Distrito Federal, Reguffe (PDT) disse que a Casa virou as costas para a vontade da população. "Essa decisão só aprofunda ainda mais o enorme fosso que separa o parlamento da sociedade." Enquanto era entrevistado no Salão Verde da Câmara, Reguffe foi surpreendido com a reação do deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA). Segundo o peemedebista, os deputados distritais foram ineficientes em combater a corrupção na capital da República. "Vocês não fiscalizaram quando tiveram a oportunidade. Não fizeram o dever de casa e empurraram essas denúncias para cá", bradou Escórcio.

Paulo Maluf (PP-SP), que já foi acusado diversas vezes de cometer irregularidades, não quis revelar o voto, mas se solidarizou com a causa de Jaqueline Roriz. "Eu não julgo ninguém. Fui muito perseguido durante toda a minha vida política por conta de injustiças. Mas ainda sou muito bem votado nas eleições", disse o ex-prefeito de São Paulo. O deputado Tiririca (PR-SP) desconversou quando foi solicitado a avaliar o resultado. "O importante é que votei com a minha consciência. Estou tranquilo", disse o parlamentar.

O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PDT-BA), procurou manter a neutralidade durante todo o processo, mas, após o julgamento, revelou ter votado a favor da cassação de Jaqueline Roriz. Segundo ele, a Casa não acompanhou a vontade do povo. "Se o voto fosse aberto, isso não teria acontecido", avaliou o baiano. Sobre o fato de o plenário ter rejeitado a recomendação do conselho, ele foi sucinto: "Eu fiz a minha parte".