Título: Por 265 votos, Câmara absolve Jaqueline
Autor: Tahan, Lilian; Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 31/08/2011, Política no DF, p. 24

Apesar dos discursos inflamados que pediam a perda do mandato, votação secreta deu ampla vitória à deputada do DF

A deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) foi absolvida de processo por quebra de decoro com placar folgado. Para cassar o mandato da parlamentar, a maioria absoluta dos colegas teria de ter votado pela condenação. O placar foi exatamente o contrário. Ela reuniu 265 votos, mais que o quórum mínimo, a favor da manutenção de seu mandato. Apesar do vídeo em que aparece recebendo dinheiro das mãos do delator da Caixa de Pandora, Durval Barbosa, e da denúncia do Ministério Público Federal, que a acusa de peculato, Jaqueline acabou inocentada por seus pares. Foram 166 votos pela cassação, 91 a menos que o mínimo para tirá-la do cargo.

O julgamento político da deputada do DF ocorreu quase seis meses depois da divulgação do vídeo em que ela é flagrada ao lado do marido, Manoel Neto, pegando maços de dinheiro com Durval Barbosa. As cenas fazem parte da investigação do escândalo da Caixa de Pandora, que interrompeu o mandato de três distritais (Eurides Brito foi cassada, Júnior Brunelli e Leonardo Prudente renunciaram) e encurtou o governo de José Roberto Arruda. Apesar de aparecer em cenas tão constrangedoras como as que derrubaram outros políticos do DF, Jaqueline foi poupada em votação secreta no plenário da Câmara dos Deputados.

Passava das 17h quando começou a sessão para analisar o requerimento de autoria do PSol que sugeria a cassação de Jaqueline. O relator da matéria, Carlos Sampaio (PSDB-SP), fez uma argumentação veemente pelo confisco do mandato. Em 35 minutos, Sampaio chamou a conduta da parlamentar de aviltante, acusou-a de desfaçatez e convocou os colegas a tomarem uma atitude: "Precisamos nos posicionar, é isso que o Brasil espera de nós", cobrou. Ao fim do discurso, foi aplaudido por meia dúzia de observadores, que acompanhavam a sessão nas galerias do plenário. Outra meia dúzia ensaiou vaia.

"A dor faz emudecer" Na vez de a defesa de Jaqueline se pronunciar, a impressão era de que os deputados já tinham uma convicção sobre o episódio, pois conversavam sem dar muita atenção ao advogado José Eduardo Alckmin, que imprimiu um tom cadenciado à sua oratória. O defensor de Jaqueline centrou-se no argumento de que ela não poderia ser punida por ato cometido fora de mandato parlamentar e que não era deputada quando flagrada recebendo dinheiro de Durval. A justificativa, como apontou o resultado da votação, teve forte apelo entre os deputados que não queriam criar um precedente para o julgamento de outros atos supostamente impróprios cometidos por políticos antes do início do mandato.

Em seguida ao embate entre defesa e acusação, Jaqueline Roriz subiu à tribuna. Começou a explanação citando Padre Antônio Vieira: ""A dor faz gritar, mas, se é excessiva, faz emudecer." Me calei". Orientada por profissionais de comunicação, ela manteve a calma e apenas pontuou alguns dos trechos de seu discurso lido espetando o ar com o indicador. Num desses momentos, apelou para o drama familiar, ao lembrar a doença de um filho que sofre de hemofilia e do irmão, morto aos cinco anos em função da mesma enfermidade.

Depois da deputada, falaram os colegas inscritos para debater o caso. Foram quatro parlamentares contra e apenas uma voz, a de Vilson Covatti (PP-RS), a favor de Jaqueline. Um dos que pediu a pena máxima foi Chico Alencar (PSol-RJ). Ele também aproveitou o gancho de Padre Antônio Vieira para defender a tese da cassação. "No Brasil, conjuga-se o verbo roubar em todos os tempos e em todas as pessoas." Também sustentaram a perda de mandato José Antônio Reguffe (PDT), Érika Kokay (PT) e Vanderlei Macris (PSDB-SP).

Encerradas as discussões, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), iniciou a votação secreta e deu uma hora de prazo para os deputados. PSDB, DEM, PSol e PPS orientaram os deputados filiados a votar com o relator da matéria. Encerrado o tempo, 451 parlamentares haviam se manifestado. O quórum foi o menor das últimas três terças-feiras. Do total de votantes, 20 se abstiveram, o que acaba também contando a favor da deputada.

Sempre ladeada do advogado José Eduardo Alckmin e de dois assessores, Jaqueline acompanhou a sessão quase até o fim. Deixou o plenário discretamente, 15 minutos antes da proclamação do resultado. Estava a caminho de casa quando ligou para um assessor que a comunicou da vitória. Livre da cassação, ela segue a carreira política como aposta para o futuro do clã Roriz.

Opinião do internauta Leia alguns comentários sobre a absolvição da deputada Jaqueline Roriz:

Antônio Nunes "O brasileiro é realmente um povo pacífico. Em um país sério, as pessoais iriam às ruas protestar e pedir a cabeça da parlamentar. Em 2006, ela não era deputada, mas se apropriou de dinheiro público: o meu, o seu, de todos. Realmente, lamentável tudo isso."

Ueslei Lima "Alguém aí achava que os nobres deputados abririam um perigoso precedente e dariam um tiro no pé? Resultado mais do que esperado."

Roberto Teixeira "Tenho vergonha de ser brasileiro. Preferiria um Kadafi da vida do que uns deputados como esses."

Fabrício Marques "Cheguei em casa e tive o prazer de ouvir as palavras do nobre parlamentar Reguffe, exemplo de ética a ser seguido. Infelizmente, a casa parlamentar está lotada de pragas e parasitas, protegidos da opinião pública por seus votos secretos."

Pedro Abreu "Era algo que eu já esperava, mas ainda tinha um pouco de esperança de que não ia acabar em pizza."

Marcus Lopes "A população sofrida e batalhadora não merece isso. Não é justo."

Classius Silva "Já era de se esperar esse desfecho vergonhoso para Brasília e para o Brasil. Infelizmente, o povo ainda não aprendeu a votar. A maioria só vota em busca de interesses escusos. Cada povo tem os políticos que merece."

Ivo Diniz "Minha esperança e a do Brasil é que esses 166 deputados que votaram sim se multipliquem, porque os 265 são da mesma panela de santo Roriz."

Rosangela Barros "Como eles querem fazer CPI de Corrupção, se os próprios deputados não a combatem?"

PLACAR

Confira como votaram os deputados

Contra 265 A favor 166

Abstenções 20

Total 451