Dólar sobe 6% no mês e faz de fundo cambial melhor aplicação

 

RENNAN SETTI

O globo, n. 29975, 01//09/2015. Economia, p. 20

 

A piora no cenário político brasileiro e uma onda de nervosismo com o crescimento global fez saltar em agosto o dólar e, consequentemente, a rentabilidade dos fundos cambiais. A aplicação — caracterizada por fundos que têm pelo menos 80% da carteira em ativos ligados à moeda americana ou ao euro — foi a campeã disparada no mês passado. Sua rentabilidade foi de 5,65% até o dia 26, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais ( Anbima). No mês, o dólar comercial subiu 5,96%, a R$ 3,629.

O retorno do fundo cambial foi quase seis vezes maior que o da segunda melhor aplicação do mês. O fundo Referenciado DI, que acompanha de perto o desempenho dos juros da economia, teve rentabilidade mensal de 0,96%.

RISCO, APESAR DO RETORNO

O fundo cambial também é, de longe, a melhor aplicação no ano, com retorno de 36,9% desde janeiro — contra os 12,9% dos fundos multimercado multiestratégia, com grande liberdade para alocar seus recursos. Mas o investidor que não aproveitou os meses de retorno farto deve tomar cuidado diante da tentação de correr para o câmbio.

— O fundo cambial é muito arriscado para a pessoa fixa, sobretudo agora. Um retorno de quase 40% no ano sugere um risco maior, embora a tendência do dólar ainda seja de alta — explicou Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama.

Embora tenha tido o segundo melhor desempenho no ano, o fundo Multimercados multiestratégia rendeu apenas 0,44% em agosto, atrás do fundo de Renda Fixa, com 0,70%. No ano, este último proporcionou retorno de 8,52%, mais que os 8,31% do Referenciado DI.

Para quem apostou em ações, porém, agosto representou prejuízos intensos, uma vez que o índice de referência Ibovespa registrou seu pior mês do ano, com tombo de 8,33%. A queda foi provocada, sobretudo, por incertezas quanto ao mercado chinês e quanto à situação fiscal do Brasil.

Com esse movimento, os fundos do tipo Ações Ibovespa Indexado — que acompanham de perto o comportamento do índice — despencaram 9,38% até o dia 26. Os fundos de Ações Livre, que têm liberdade para escolher os papéis de sua carteira, recuaram 5,5%. Já os fundos de Ações Ibovespa Ativo — cuja meta é superar o índice — tiveram retorno negativo de 5,25% no mês. No ano, o Ibovespa Ativo perde 8,97%, mas o Ações Livre e Ibovespa Ativo tiveram perda de 1,48% e 1,27%, respectivamente.

O ouro, usado como referência para as aplicações financeiras, teve desempenho melhor que os fundos cambiais em agosto. O metal valorizou- se em 8,91% no mês. No ano, seu retorno do ouro foi de 28,35%.

— O ouro é um metal de referência que se valoriza quando há instabilidade internacional e quando o dólar sobe. Em agosto, as duas coisas aconteceram — disse Sandra.