CRISTIANE JUNGBLUT E MARIA LIMA
O globo, n. 29975, 01//09/2015. País, p. 5
O discurso dos aliados da presidente Dilma Rousseff foi de ressaltar a transparência do Orçamento deficitário, mas, nos bastidores, houve muita reclamação de que o governo passou ao Congresso a dura tarefa de encontrar uma saída para reduzir o rombo. Depois de receber a proposta orçamentária para 2016 dos ministros Joaquim Levy ( Fazenda) e Nelson Barbosa ( Planejamento), o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), disse ontem que o projeto ‘‘ não é uma ficção”. Ele alertou que aumentar impostos não pode ser a solução para a crise, e defendeu um corte de despesas.
— O Orçamento, apesar do déficit, é uma mudança de atitude, um primeiro passo. Precisamos ajudar, e o que for possível, vamos fazer. O realismo orçamentário fala da necessidade de nos mobilizarmos todos, Congresso, sociedade, poderes, para encontrarmos saídas — disse Renan.
Em um tom mais crítico, um outro representante do Congresso, também aliado do governo, falou sobre a sensação de ter que votar o Orçamento de 2016:
— Passaram a batata quente para nós.
O vice- presidente do Senado, Jorge Viana ( PT- AC), sugeriu, em plenário, que a presidente Dilma Rousseff faça um pronunciamento para reconhecer as dificuldades e pedir apoio ao Congresso e à população:
— Nos últimos anos, vivemos numa ilha da fantasia, onde o Orçamento era uma peça de ficção. Agora, chegamos mais perto da realidade. Hoje deveria ser um dia para a presidente Dilma falar ao país: “Estou fazendo uma peça orçamentária realista e preciso do apoio do Congresso e dos cidadãos’’.
Em nome do que chamou de ‘‘ uma parcela importante do PT’’, o senador Lindbergh Farias ( RJ) afirmou que haverá um aumento da pressão junto à presidente Dilma Rousseff para que mude a política econômica do governo:
— A única coisa que subiu muito foi o pagamento de juros da dívida. O ajuste fiscal de Levy cortou este ano R$ 20 bilhões de investimentos e aumentou em R$ 100 bilhões o que pagamos de juros. A pressão é para que a presidente mude, pelo amor de Deus, a política monetária.
A oposição criticou duramente o Orçamento e cobrou do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), sua devolução ao Executivo. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), disse que o efeito mais danoso para os brasileiros será o inevitável rebaixamento da nota de crédito e a perda do grau de investimento do país.
— O improviso é a marca das ações daqueles que ainda acham que governam o Brasil. A Presidência da República quer dividir com o Congresso uma responsabilidade que era exclusivamente dela, fazer os cortes e ajustes para equilibrar o Orçamento. O governo coloca sobre si o atestado da incompetência. Hoje, é o improviso que governa o Brasil — criticou Aécio.
PARA O DEM, UMA ‘‘ BOMBA’’
Enfático, o presidente nacional do DEM, senador José Agripino ( RN), disse que é necessário devolver logo a peça orçamentária ao governo.
— A presidente Dilma Rousseff quer nos entregar a bomba que produziu. Ela quer que o Congresso a desarme com aumento de impostos e cortes de despesas, que são atribuições indelegáveis do Executivo. O governo produziu um rombo e quem vai ter de cobrir essa conta somos nós? Isso é uma brincadeira, algo do tipo “resolvam o problema que criei?’’ — protestou Agripino.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado ( GO), fez coro às críticas de Agripino:
— Se insistirem, a Comissão de Orçamento vai atuar para expor ainda mais o governo de Dilma. Na hora de vir com o Orçamento, ela lava as mãos, não sinaliza qualquer corte significativo e quer que o Congresso sirva de para- choque, de escudo.
O deputado Arthur Maia ( BA), líder do Solidariedade na Câmara, informou que o partido sugeriu ao presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), que devolva o “orçamento desequilibrado para a presidente Dilma Rousseff’’, sob risco de os parlamentares se tornarem “cúmplices de mais um crime de responsabilidade fiscal”.
“É a maior demonstração de incompetência econômica que o governo federal poderia dar”, afirmou Arthur Maia, por meio de uma nota.
O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força ( SP), disse, também por meio de uma nota, que o governo tem demonstrado despreparo para lidar com o dinheiro público.
“O orçamento está com déficit porque a gestão do governo foi temerária. Usou e abusou das pedaladas fiscais e da contabilidade criativa’’, destacou o parlamentar.