O Estado de São Paulo, n.44508, 27/08/2015. Política, p.A6

Dilma pede ajuda ao setor produtivo

 

26 Agosto 2015 | 17h 08

Em reunião de quatro horas no Alvorada, presidente diz a grandes empresários que momento é difícil e que todos têm de colaborar

Brasília – Em mais um gesto de aproximação com o setor produtivo, a presidente Dilma Rousseff convidou sete grandes empresários para um jantar no Palácio da Alvorada na última terça-feira, em que reconheceu as dificuldades com a crise econômica na China e pediu ajuda para superar a encruzilhada na qual se encontra o Brasil. 

 

Segundo um dos participantes, Dilma ouviu dos executivos um compromisso com a estabilidade, um gesto interpretado pelo Palácio do Planalto como uma nova blindagem às movimentações pelo impeachment da presidente.

“Nós estamos vivendo um momento difícil. Temos de sair disso juntos e todos têm de ajudar”, afirmou Dilma, no encontro, que se estendeu por cerca de quatro horas. Marcaram presença os executivos Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, Benjamin Steinbruch, da CSN, Cledorvino Belini, da Fiat, Joesley Batista, do grupo JBS, Edson Bueno, da Dasa, Josué Gomes da Silva, da Coteminas, e Rubens Ometto, da Cosan.

 

A presidente Dilma Rousseff (PT)

A presidente Dilma Rousseff (PT)

Segundo o Estado apurou, Dilma reconheceu que há “dificuldades reais” colocadas no horizonte, pediu ajuda do setor privado para superar a crise e garantiu que o objetivo da política econômica do governo é a retomada do crescimento.

Do outro lado, recebeu mensagens de apoio à estabilidade do País, mas também ouviu do setor privado preocupação com a governabilidade.

Os empresários também reclamaram com Dilma da alta taxa de juros, que afeta os negócios. Os que mais se queixaram foram Benjamin Steinbruch, do setor de siderurgia, e Josué Gomes da Silva, da Coteminas.

Dilma disse considerar a reclamação “fantástica” e explicou o motivo. “Antes vocês falavam que eu interferia no Banco Central, mas o Banco Central tem plena autonomia. Então agora vocês querem que eu interfira?”, questionou ela, de acordo com relato de participantes do jantar. 

Trabuco demonstrou preocupação com a necessidade de uma reforma na Previdência e sugeriu que a presidente iniciasse um processo de longo prazo para evitar desgastes pontuais a atual governo e aos futuros.

Nas últimas semanas, a presidente vem colhendo frutos positivos dessa reaproximação com o empresariado. Benjamin Steinbruch (CSN), Roberto Setubal (Itaú) e Abílio Diniz (BRF) foram algumas das vozes a fazer, em público, coro à afirmação de que o Brasil sofre hoje o rescaldo da crise externa, especialmente da China.

Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) também estiveram presentes ao jantar. Segundo Monteiro, Dilma ressaltou que ainda não é plenamente conhecida a extensão da crise na China, que ganhou mais peso com o anúncio do Banco Central chinês de redução nas taxas de juros e afrouxamento das taxas de depósito compulsório para acalmar os mercados.

Na avaliação de Monteiro, o diálogo foi “franco e produtivo”. “A presidente mais ouviu do que falou. Ninguém manifestou posição de falta de confiança, todos querem ver o Brasil superar essas dificuldades. É importante que todos possam dar uma contribuição.”

No Palácio do Planalto, a expectativa é que o resgate da popularidade da presidente se dará com os primeiros sinais de recuperação da economia. Além de intensificar a interlocução com executivos de grandes empresas, Dilma tem aproveitado as viagens por capitais nordestinas para se encontrar com empresários regionais, em uma tentativa de “injetar” otimismo na economia.

Agenda. O vice-presidente Michel Temer, que anunciou sua saída do “varejo” da articulação política, não foi informado sobre o encontro de Dilma. Temer participa hoje, em São Paulo, de um novo jantar com empresários, organizado pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PMDB). Alguns nomes que se encontraram com Dilma anteontem, como Trabuco, também estarão no evento desta quinta-feira.

 

Em nota, Fiesp critica ministro da Fazenda

Para o presidente da entidade, Paulo Skaf, que é filiado ao PMDB, 'Levy não vê problema' na redução de empregos

 

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou nota ontem com críticas à condução da política econômica pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

"Levy não vê problema em terminar o ano com 1,5 milhão de empregos a menos", diz o trecho mais duro da nota. A Fiesp é presidida por Paulo Skaf, filiado ao PMDB e muito próximo do vice-presidente da República, Michel Temer.

O texto cita a turbulência na economia da China e elogia medidas tomadas pelo governo daquele país. Em seguida, usa o exemplo chinês para criticar a atual gestão do Brasil.

"No Brasil, vimos o oposto. Enquanto o PIB deverá encolher 3% no ano, a política econômica se baseia em aumento da taxa de juros, redução do crédito e aumento de impostos, ou seja, ações que tendem a ampliar os efeitos negativos da crise. Não há nenhum estímulo à retomada da economia", afirma Skaf, que assina a nota.

"Na semana passada, em reunião com líderes de diversos setores produtivos, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendeu o aumento de impostos da contribuição da Previdência, mesmo alertado de que a medida provocará mais desemprego. Pelo visto, para o ministro, terminar o ano com fechamento negativo de 1,5 milhão de empregos a menos parece não ser um problema", conclui a nota.

Hoje à noite Temer tem presença confirmada em um jantar oferecido pela Fiesp, na capital paulista. O vice-presidente tem procurado manter agendas com o setor produtivo desde o início da atual crise política.

Temer formalizou na última segunda-feira sua saída da função de articulador político do governo Dilma. A decisão foi tomada após alguns desentendimentos de Temer e do PMDB com Levy e a equipe econômica. Antes do jantar, o vice cumpre outras agendas relativas ao cargo dele em São Paulo.