O globo, n.29.976, 02/09/2015. Economia, p. 20

 

Alvo errado

País começa a ver a reprise de

conflito entre ministros pelo comando da economia. Ter um ministro como Joaquim Levy, com seu currículo e sabedoria, para transformá- lo em saco de pancada e não ouvir suas ponderações revela a insensatez do governo. Levy é solução, o problema foi criado pelo governo Dilma ao expandir gastos, pedalar, abrir mão de receita. Não se chegou a este ponto por causa do ministro, a dúvida é por que ele aceitou um emprego onde não o querem.

Na semana passada, ele foi o alvo de um ataque do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e não foi defendido pelo governo. É bom lembrar que Skaf apresentou- se, em anúncio na TV, como o idealizador da redução do preço da energia, política que desorganizou o setor elétrico e acabou provocando um tarifaço. Seria bom se ele usasse os mesmos recursos do sistema Sesi- Fiesp, com os quais se alavancou perto das eleições, para voltar à televisão e assumir que sua redução de tarifas fracassou e o distinto público pagou a conta.

Quem mais critica Levy é quem mais precisa dele: o PT. É o partido que está em apuros com uma crise econômica e uma crise política, isso sem falar em outros eventos mais constrangedores. Essa recessão que está aí é fruto de erros cometidos pelo governo e os equívocos teóricos dos economistas petistas. E não culpa de Levy. Ele se dispôs a ir para o governo, apesar do ambiente hostil, porque acreditava que poderia reverter as consequências dos erros cometidos no primeiro mandato. Mas o governo continua errando principalmente por não ouvi- lo. A presidente Dilma acha que suas convicções econômicas funcionam — a despeito das fortes evidências em contrário — e, por isso, só ouve quem não a contraria.

Como se chegou a um orçamento desequilibrado? O governo ignorou todos os sinais prévios de que estava havendo uma deterioração das contas públicas. O superávit primário despencou e, quando bateu no chão, foi camuflado pelas manobras que estão agora sendo analisadas pelo Tribunal de Contas da União ( TCU). O então secretário do Tesouro e o então ministro que cometeram todos aqueles erros tiveram o respaldo da presidente.

O país está começando a ver um remake do conflito entre dois ministros pelo comando da economia. Isso já aconteceu várias vezes e nunca deu certo, enfraqueceu o país, piorou a conjuntura. O próprio governo alimenta a ideia de que há um ministro bom que lutará contra o ministro mau. Ninguém tem o monopólio da verdade, e o normal é que qualquer ministro perca a discussão em algum momento, mas o que está acontecendo é o governo ignorar sucessivas vezes o alerta e as propostas do ministro Joaquim Levy.

O ministro foi nomeado não por se aceitar as ideias dele, mas porque o governo achava que assim compraria um seguro contra a falta de credibilidade na política econômica anterior. Não se queria exatamente mudar de rumo, mas sim pagar um prêmio ao que eles definem como “mercado”, mas que é a realidade. Agora, que já sabotaram as principais ideias do ministro, o governo reclama que ele não teve um bom desempenho.

O ajuste fiscal foi fraco demais, e o governo tem sido hesitante sobre cada uma de suas ideias. Basta ver a Previdência. Em vez de propor uma reforma que realmente reduzisse o ritmo acelerado de crescimento das despesas, o governo propôs apenas uma redução no gasto com as viúvas jovens. Quando o Congresso transformou aquela medida provisória em veículo para derrubar o fator previdenciário e propor uma fórmula que incentiva a aposentadoria precoce, era hora de o governo vetar e apresentar uma proposta com fixação de idade mínima. O executivo vetou, mas fez uma proposta que apenas altera um pouco o projeto do Congresso. Agora, está falando que quer uma reforma da Previdência com idade mínima. Esta deveria ter sido a primeira ideia e não a terceira.

Como é que o governo quer reconquistar a confiança sendo hesitante e ambíguo? Se é para não seguir as orientações do ministro da Fazenda, por que mantê- lo? Pergunta que as autoridades devem se fazer. É preciso avaliar o custo para o país da saída de Joaquim Levy. Pode ser maior do que o Planalto imagina.