ANA PAULA RIBEIRO
O globo, n. 30013, 09//10/2015. Economia, p. 20
Pela primeira vez em mais de um mês, a moeda americana fechou abaixo de R$ 3,80. Seguindo tendência internacional, recuou 2,14% e encerrou o dia cotada a R$ 3,794. A Bovespa teve a oitava alta seguida, de 0,39%, no mais longo período de valorização desde março de 2014. - SÃO PAULO- A sinalização de que os juros nos Estados Unidos podem subir só em 2016 contribuiu para uma queda superior a 2% na cotação do dólar ontem, apesar do ambiente político nacional ainda incerto. A moeda americana fechou a R$ 3,794, recuo de 2,14%, a menor cotação desde 3 de setembro, quando o Brasil ainda não havia sido rebaixado pela Standard & Poor’s. Na mínima, foi negociada a R$ 3,792. A menor aversão a risco em relação ao Brasil fez a Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa) avançar 0,39%, aos 49.106 pontos, a oitava alta consecutiva, na mais longa série de valorizações desde março de 2014.
— O real estava se valorizando desde a manhã. Estamos vendo uma desaceleração em importantes economias do mundo, e o Fed está mostrando cautela — explicou Luciano Rostagno, estrategista- chefe do Mizuho Bank.
A ata do Federal Reserve ( Fed, o BC americano), divulgada no meio da tarde, mostrou que os membros do Comitê Federal de Política Monetária ( Fomc, na sigla em inglês) querem ter certeza de que a desaceleração global não vai prejudicar a retomada da economia dos EUA. A postergação do aumento dos juros favorece as moedas de países emergentes. E no caso dos países produtores de petróleo, como o Brasil, há ainda o benefício da recuperação dos preços da matéria- prima no mercado internacional.
— Os emergentes estão ganhando força, mas não de uma maneira tão forte quanto no Brasil — afirmou Jankiel Santos, economista- chefe do Haitong Bank, lembrando que, na Colômbia, que também é produtora de petróleo, a queda do dólar ficou em torno de 1%.
Em relação aos fatores políticos locais, como a reprovação das contas da presidente Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União ( TCU), na noite de quarta- feira, a avaliação de analistas é que essa derrota já estava no preço dos ativos do mercado de câmbio. A divisa chegou a subir a R$ 3,91 logo na abertura dos negócios, mas recuou em seguida.
PETROBRAS SE DESTACA NA BOLSA
Na avaliação de Bernard Gonin, analista macro e gestor de renda fixa da Rio Gestão de Recursos, mais importante que a rejeição das contas é a votação dos vetos presidenciais, que foi adiada na quarta- feira por falta de quórum. Ainda assim, o especialista reconhece que a menor aversão ao risco global favorece a valorização dos ativos brasileiros.
— Houve uma melhora no cenário externo, e o apetite por emergentes melhorou. Há uma questão política por aqui, mas mais importante que o TCU foi o adiamento da votação dos vetos. Se os vetos forem derrubados, acaba a chance de uma melhora fiscal, e isso é o que interessa para as agências de classificação de risco — explicou, acrescentando que o temor da perda do grau de investimento por outra agência tem um peso maior sobre os negócios.
A Petrobras foi uma das principais altas da Bolsa. Os papéis preferenciais ( PN, sem direito a voto) da estatal avançaram 3,30%, a R$ 8,75. Já os ordinários ( ON, com voto) subiram 3,36%, a R$ 10,75, na esteira dos preços do petróleo no mercado internacional. O barril do tipo Brent teve alta de 3,35%, a US$ 53,05, maior patamar desde o fim de julho.