Documento elaborado pela Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT, em parceria com outras seis entidades, diz que a política econômica adotada no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff desconstrói o modelo de inclusão social criado na administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, implantado ao longo dos outros 12 anos de governos petistas (2002- 2014).
"Em suma, o ajuste em curso acarreta a desconstrução do modelo socialmente inclusivo implantado nos últimos anos", diz o volume 1 do texto "Por um Brasil Justo e Democrático".
O documento apresentado ontem, em São Paulo, foi enviado à presidente e tem o objetivo de criar condições políticas e pressionar para que o governo inverta a lógica da política econômica neste segundo mandato de Dilma, marcado até aqui por cortes de gastos. A elaboração do texto foi acompanhada por Lula e endossada pela direção do PT.
Para o presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, as premissas da política econômica do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estão erradas. Para Pochmann, a retomada do crescimento econômico pela recuperação do investimento privado, como resultado do ajuste fiscal proposto por Levy, não vai se confirmar.
"Todo ajuste fiscal reduz o nível de atividade econômica. O ministro Levy, por exemplo, em janeiro havia afirmado que nós teríamos uma recessão de apenas três meses, agora já está se falando que vai durar até 2017".
'Equívocos'. O texto reitera diversas vezes que a causa primária para a crise brasileira é a "terceira onda" da crise financeira global iniciada em 2008, mas não poupa críticas aos "equívocos cometidos" na condução econômica do governo federal, como "apostar suas fichas no setor privado" que "não respondeu".
"Este governo é igual ao Rogério Ceni", comparou João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em referência ao goleiro do São Paulo, que permitiu o empate do Palmeiras no minuto final do clássico do último domingo.
Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, é evidente que a política de cortes e ajuste fiscal não está dando resultados e aprofunda a crise. Entre as medidas defendidas no documento estão o fim da política de elevação dos juros, "essa, sim, uma irresponsabilidade sem precedentes", taxação das grandes fortunas, lucros, dividendos e remessas ao exterior, fortalecimento do mercado interno, além da preservação de gastos sociais.
As críticas obtiveram ressonância entre os encarregados de defender Dilma no Congresso. "A gente quer defender esse governo, mas esse governo só consegue se salvar da pressão contra ele se mudar de rumo. Esse é o momento em que o bom amigo não fica calado, com uma posição acrítica", disse o senador Lindbergh Faria (PT-RJ).
Em meio à saída de políticos do PT, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, afirmou ontem, no site da sigla, que aqueles que deixam o partido são movidos "por projetos personalistas e/ou interesses eleitorais".
Já em relação à reforma ministerial, por considerarem um "retrocesso político" o plano do governo Dilma de fundir o Ministério do Trabalho com o Ministério da Previdência, centrais sindicais divulgam hoje uma nota conjunta assinada pelas seis maiores centrais do País. No texto, os sindicalistas afirmam que a ideia do Planalto vai gerar "enormes prejuízos aos trabalhadores e à sociedade em geral".
As entidades também afirmam que o Planalto teve dificuldades de comunicar a estratégia do novo ciclo de elevação de juros e "indefinição nos marcos regulatórios das concessões".
O documento reclama que a gestão abandonou o programa defendido na eleição de 2014, se submeteu à lógica "liberal" e à "defesa dos grandes bancos e fundos de investimentos".