Baiano diz que deu R$ 2 milhões para pagar dívida de nora de Lula

 

FERNANDA KRAKOVICS E JAILTON DE CARVALHO

O globo, n. 30020, 16//10/2015. País, p. 7

 

O delator da Lava- Jato Fernando Baiano disse que o ex- presidente Lula participou de negociações para incluir a empresa OSX em contratos relacionados à Petrobras, o que o petista nega. Segundo o “Jornal Nacional”, o negócio não foi concretizado, mas Baiano disse que deu R$ 2 milhões para pagar dívida de uma nora do ex- presidente. No domingo, o colunista do GLOBO Lauro Jardim publicou que Baiano contara ter pagado despesas de R$ 2 milhões de Lulinha, filho do ex- presidente. A nora seria a mulher de Lulinha. Ontem, Lula depôs no inquérito sobre tráfico de influência em favor da Odebrecht. - BRASÍLIA- O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, disse em depoimento na delação premiada homologada no Supremo Tribunal Federal que o ex- presidente Lula teria participado pessoalmente de negociações para incluir a empresa OSX, de Eike Batista, em contratos da Sete Brasil com a Petrobras. A informação é do “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Segundo a reportagem, que foi ao ar ontem, uma nora do ex- presidente teria sido beneficiada com pagamento de propina no valor de R$ 2 milhões. No domingo, o colunista do GLOBO Lauro Jardim publicou que Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex- presidente, teve despesas de R$ 2 milhões pagas por Baiano.

FERNANDO DONASCI/ 24- 07- 2015Resposta. Lula diz que não autorizou lobby em seu nome

Baiano relatou, ainda segundo o “JN”, que o empresário José Carlos Bumlai foi procurado para ajudar no negócio de interesse da OSX. Bumlai exigiu R$ 3 milhões. E teria dito que o dinheiro seria destinado a uma nora de Lula para pagamento de parte de um imóvel. As tratativas sobre o negócio, porém, não foram adiante. A assessoria do expresidente disse que Lula “nunca atuou como intermediário de empresas em contratos, antes, durante ou depois de seu governo”. Lula também informou que “jamais autorizou que o sr. José Carlos Bumlai ou qualquer pessoa utilizasse seu nome em qualquer espécie de lobby”. “Lula tem quatro noras, e nenhuma delas recebeu, direta ou indiretamente, qualquer quantia ou favor do réu Fernando Baiano. É deplorável que a palavra de um réu confesso, sem amparo em fatos nem provas, seja divulgada mais uma vez de forma ilegal, com claro objetivo político”, diz a nota do Instituto Lula.

Lula prestou ontem depoimento “voluntário”, segundo o Instituto Lula, no inquérito aberto pelo Ministério Público do Distrito Federal para investigar suposto tráfico de influência em favor de empreiteiras no exterior. Um dos advogados do expresidente fez contato com o procurador do caso e pediu para marcar o depoimento, que começou às 11h e terminou às 13h30m.

O depoimento foi colhido fora das dependências da Procuradoria da República. Um dos advogados de Lula pediu que ele fosse ouvido num local “neutro” para não chamar atenção da imprensa. O procurador Cláudio Marx poderia recusar o pedido, mas preferiu concordar com a sugestão para agilizar a investigação. Ele entendeu que, se não houvesse um acordo prévio sobre o melhor local para ouvir Lula, o depoimento poderia ser adiado em prejuízo do andamento da apuração. A data e o local do depoimento foram acertados recentemente numa conversa entre o advogado e o procurador. Quando soube que Lula seria intimado para dar explicações, o advogado se prontificou a apresentar o ex- presidente, mas com a ressalva de que houvesse discrição, ou seja, sem cobertura da imprensa. Como o caso está em sigilo, o procurador concordou.

“Lula respondeu às perguntas do procurador e argumentou que os presidentes e ex- presidentes do mundo inteiro defendem as empresas de seus países no exterior. Afirmou que para ele isso é motivo de orgulho”, diz a nota divulgada pelo Instituto Lula. Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do ex- presidente, Lula disse que todas as palestras dadas por ele estão declaradas e contabilizadas e que “jamais” interferiu na autonomia do BNDES e nas decisões do banco sobre concessões de empréstimos. De acordo com a nota, Lula afirmou que “quem desconfia do BNDES não tem noção da seriedade da instituição”. SUPOSTO TRÁFICO DE INFLUÊNCIA NO BNDES A Procuradoria investiga suposto envolvimento em tráfico de influência no BNDES para induzir o banco a financiar obras da Odebrecht no exterior. Em abril, O GLOBO revelou que o ex- diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar levou Lula para Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, em 2013. A viagem foi paga pela construtora e, oficialmente, não tinha relação com atividades da empresa nesses países.

Está sendo apurado se Lula pode ser responsabilizado por tráfico de influência internacional junto a agentes políticos estrangeiros, para beneficiar a Odebrecht. Além da abertura de uma investigação, foi solicitado o compartilhamento de informações da Lava- Jato. Lula deve ser ouvido na condição de informante, e não como investigado. O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, autorizou que o ex- presidente prestasse depoimento.

 

Secretário da Unasul defende Dilma, e tucanos cancelam encontro

 

 O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Aloysio Nunes, e o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, cancelaram a reunião que a comissão teria na quarta- feira com o secretário- geral da Unasul, Ernesto Samper, em repúdio às declarações do colombiano contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na terça- feira, após um encontro com Dilma no Palácio do Planalto, Samper disse que a presidente deveria terminar seu mandato.

— A posição da Unasul é muito clara: a presidente pode e deve terminar o seu mandato até o final. Eu reiterei a posição da Unasul de que ela foi eleita constitucionalmente e pode e deve politicamente terminar o seu mandato. Ela tem o apoio da Unasul. É uma pessoa honesta e foi eleita constitucionalmente. Obviamente, esperamos que todos os temas políticos sejam tratados dentro do Congresso Nacional em respeito à Constituição Federal e em respeito às normas universais sobre o direito de defesa — afirmou Samper antes de deixar o Palácio do Planalto.

Em nota divulgada ontem, Aloysio Nunes Ferreira criticou o secretário- geral da Unasul. Vice da chapa de Aécio na eleição do ano passado, o senador ressaltou que as instituições brasileiras “cumprem as missões que lhes são atribuídas pela Constituição, inclusive a de deliberar sobre pedidos de impeachment”: “O Brasil é uma democracia consolidada e o senhor Samper faria melhor se dedicasse mais atenção à escalada autoritária em outros países da região, notadamente a Venezuela, sobre a qual, até agora, tem mantido silêncio. As instituições brasileiras são robustas o suficiente para lidar, dentro dos princípios do Estado Democrático de Direito, com a profunda crise econômica e política que o País atravessa”.