O Estado de São Paulo, n. 44541, 29/09/2015. Economia, p. B1

Após Dilma demonstrar preocupação com câmbio, dólar volta a passar de R$ 4

Fabrício de Castro

 

A cotação do dólar disparou ontem, após dois dias de forte queda. Com o aumento da aversão ao risco no mercado internacional e o receio de novo rebaixamento da classificação de crédito brasileiro, a moeda americana subiu 2,8% e fechou na cotação máxima do dia, aos R$ 4,080.

A disparada ocorreu dois dias depois de a presidente Dilma Rousseff ter dito que o governo está "extremamente" preocupado com a alta do dólar por causa das dívidas das empresas brasileiras.

Na semana passada, o Banco Central c o Tesouro Nacional fizeram intervenções conjuntas para conter a alta do dólar e da taxa de juros no mercado futuro. Só nas últimas três sessões de negócios da semana passada o BC atuou dez vezes - incluindo leilões de swaps (o equivalente a venda de dólares no mercado futuro) -, mas sem vender dólares das reservas internacionais no mercado à vista.

Na quinta-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, indicou que o governo brasileiro poderia usar as reservas internacionais para conter a escalada da moeda americana no Brasil.

"O mercado está peitando o BC. Não tem refresco", disse à agência de notícias Reuters o operador da corretora de um importante banco nacional, sob condição de anonimato.

No fim do dia de ontem, após a disparada da moeda, o BC anunciou novas intervenções no mercado hoje, no valor total de US$ 3 bilhões. O banco vai oferecer operações de swap de até US$ 1 bilhão e dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) de até US$ 2 bilhões.

Correção no dólar. Segundo operadores de mercado, ontem houve uma "correção natural" de posições, por causa do cenário político conturbado e o avanço do dólar em relação a moedas de países emergentes.

Apesar da oscilação forte, o BC apenas observou, sem convocar leilões extras. Na prática, as intervenções da semana passada continuaram a ter efeito psicológico sobre os investidores, pelo menos na maior parte da sessão de negócios. No fim do dia, a cotação disparou.

"O pessoal compra, mas fica receoso. Ninguém quer ficar rendido em um cenário tão ruim, mas também não quer ficar tão comprado (em dólar) com o BC podendo aumentaras intervenções", disse Cleber Alessie Machado Neto, operador da H. Commcor DDTVM.

Riscos. O dólar abriu o dia em alta, com a notícia que as maiores indústrias chinesas registraram queda de 8,8% em seus lucros em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Com maior pessimismo sobre a economia chinesa, as moedas de países exportadoras de commodities, como Austrália, Nova Zelândia, Chile e Brasil sofreram desvalorizações.

Ainda pela manhã, o dólar voltou a acelerar em relação ao real, com operadores citando a percepção ruim em relação à política e à economia brasileiras.

A pressão aumentou depois que Rafael Guedes, diretor executivo da agência de classificação de risco Fitch Rating, reafirmar que a perspectiva negativa para a nota de crédito do País significa um risco de mais de 50% de rebaixamento. Guedes disse, porém, que a agência não dá dois graus de ajuste, a não ser que "haja um evento". Em tese, isso torna mais difícil que o Brasil perca o grau de investimento pela Fitch.

Bolsa. A Bolsa de Valores também foi pressionada pelo cenário externo e pelas preocupações com a economia brasileira. Os preços das commodities caíram de forma generalizada e afetaram os papéis de empresas como a mineradora Vale. No fim do dia, o Ibovespa caiu 1,95%, aos 43.956,62 pontos, no menor patamar em mais de seis anos, desde 7 de abril de 2009. Foi o sétimo recuo consecutivo da Bolsa. / COLABOROU CLAUDIA VIOLANTE, COM REUTERS