O papel do Brasil diante das mudanças climáticas

 

O globo, n. 30020, 16//10/2015. Opinião, p. 14

 

Ogoverno federal lançou em 2008 o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima ( PNA), um termo de compromisso que visa, internamente, a mitigar a vulnerabilidade do país diante de fenômenos extremos de alterações climáticas e, externamente, a participar do esforço mundial de redução das emissões de gases de efeito estufa. O programa, que está sendo aperfeiçoado em colaboração com a sociedade civil, fica aberto a consulta pública até mês que vem. O texto deverá ser apresentado como contribuição brasileira às discussões da Conferência de Paris, em dezembro.

É um documento estratégico. Mas como já parece haver consequências em curso decorrentes de alterações climáticas, serve também de guia para ações imediatas. Afinal, fazem parte da realidade do país ( e do mundo) fenômenos como o aumento, em tempo relativamente curto, da temperatura média de algumas regiões, intensificação e sazonalidade de eventos como El Niño e grandes períodos de estiagem ( como as dos últimos anos no Sudeste do Brasil), entre outros.

A elevação da temperatura média do planeta, a esta altura, parece mesmo irreversível. A ponto de as lideranças mundiais, realisticamente, proporem ações que limitem o teto desse aumento em 2 graus nas próximas décadas. Mas, a curto e médio prazos, as alterações de clima tendem a comprometer também a saúde da população.

O alerta é da Rede de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Urbanas, um organismo internacional cuja sede latino- americana fica na Fiocruz: na América Latina, ondas de calor podem, nas próximas décadas, aumentar a mortalidade nas faixas etárias mais altas; períodos mais largos de grandes precipitações tendem a trazer de volta doenças que já foram erradicadas em diversas metrópoles, como malária e leishmaniose. A dengue, por exemplo, que já tem índices de incidência preocupantes em cidades como o Rio, ganharia proporções epidêmicas em períodos de tempo menores, e aumentariam substancialmente os casos de doenças respiratórias nas regiões mais secas.

No caso do Rio, nos próximos 65 anos o aumento da temperatura média pode chegar a 3,5 graus. As consequências dessas transformações são previsivelmente alarmantes, e elas não recairão necessariamente somente sobre as próximas gerações. Fenômenos que se repetem com assustadora assiduidade, como os períodos de seca no Sudeste ( sem contar o agravamento da estiagem no Nordeste), constantes ciclos de epidemia de dengue e outras doenças sazonais etc. são evidência de que o Brasil já está diante de desafios. O papel a ser desempenhado por políticas públicas, como o PNA e outros programas de redução de danos ambientais, é crucial para preservar o país de catástrofes naturais e ajudar a salvar o planeta.