Título: Mercado vê juro estável
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2011, Economia, p. 18

Maioria dos analistas aposta na manutenção, pelo BC, da taxa básica em 12,5% ao ano.

É unânime no mercado a aposta de que a taxa básica de juros (Selic) permanecerá em 12,5% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), em 30 e 31 de agosto. Depois da piora do cenário internacional e do crescente risco de o mundo chegar a uma recessão, analistas avaliam que o BC irá encerrar o aperto monetário para não sacrificar o crescimento e garantir ao menos uma taxa de 3,5% para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) em 2011.

Bradesco, Máxima Asset Management, Corretora Concórdia, Itaú Unibanco, Link Investimentos e quase todo o mercado financeiro compartilham da avaliação de que o momento indica encerramento do período de alta na Selic. Uma unanimidade que pode ser comprovada também no Boletim Focus, relatório no qual o BC reúne projeções dos principais analistas do país. Nele, especialistas que mais acertam ¿ chamados Top Five ¿ também acreditam que a reunião do Copom desta semana será mais uma "reação prudencial" do governo contra a crise que promete derrubar mais que mercados na Europa e nos Estados Unidos e se propagar pelo globo.

Armínio Fraga, ex-presidente do BC e presidente do Conselho de Administração da BMF&Bovespa, chamou atenção para os riscos trazidos pela crise e argumentou que o país precisa, agora, criar condições necessárias para reduzir a taxa básica de juros. Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, ponderou que atividade econômica está arrefecendo no mundo e que o país pode "importar desinflação".

Ele explicou que com o mundo crescendo menos, cairá também o consumo de commodities (produtos básicos com cotação internacional) e que isso se refletirá em preços menores no Brasil. "Entretanto, nossa capacidade de reduzir juros vai depender das condições internacionais e das consequências da crise sobre o Brasil, se as commodities realmente baixarem de preço", explicou.

Michael Pettis, professor de economia na Guanghua Scholl Of Management de Pequim (China), argumentou que é preciso cuidado ao analisar commodities e que pode ser perigoso acreditar em queda geral de preços. Segundo ele, a China, maior consumidora de matérias-primas, deve crescer em ritmo menor. "Está caminhando para crescer 3% ao ano", disse. "As commodities que dependem de investimento (como aço) serão feridas, as que dependem de consumo, não", afirmou.