CPI da Petrobras agora cria a figura dos indiciados sem nome

 

EDUARDO BRESCIANI 

O globo, n. 30025, 21//10/2015. País, p. 6

 

O relatório da CPI da Petrobras apresentado na última segunda- feira pelo deputado Luiz Sérgio ( PT- RJ) propõe o indiciamento de pessoas sem indicar sequer os nomes delas. Nenhum político figura entre os indiciados, e a maioria dos 68 que estão na lista de indiciamentos já responde a processos na Operação Lava- Jato.

JORGE WILLIAM/ 19- 10- 2015Comissão. O deputado Luiz Sérgio durante leitura de seu relatório final

O PSDB e o PSOL já anunciaram a apresentação de votos em separado propondo a inclusão de políticos na lista. Os tucanos querem incluir a presidente Dilma Rousseff e o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto o PSOL quer que a CPI recomende ao Conselho de Ética a cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ).

RESPONSÁVEIS LEGAIS SECRETOS

A proposta de indiciar representantes de empresas sem apresentar nomes consta de dois sub- relatórios, elaborados pelos deputados Altineu Côrtes ( PRRJ) e Arnaldo Faria de Sá ( PTBSP). Luiz Sérgio, que não propôs diretamente o indiciamento de ninguém, apenas acatou as sugestões. No caso do deputado do PR, são apontados como indiciados por participação de licitações fraudulentas para construir refinarias da Petrobras os “responsáveis legais” de 16 empresas, sem dizer quem são eles.

O próprio Altineu usou critério diferente em relação a oito empreiteiras. Nesses casos, apontou nomes de envolvidos, citando, por exemplo, Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. Em alguns casos, isentou presidentes e incluiu apenas os vices, como Sérgio Mendes, da Mendes Júnior, e Gerson Almada, da Engevix.

Arnaldo Faria de Sá, por sua vez, fez uma lista com 13 indiciados com o nome de cada acusado, mas incluiu na lista os “representantes legais” do Grupo Schahin, sem nominar a quem se referia. Ele foi subrelator da área de superfaturamento e gestão temerária na contratação de navios- sonda. O relator acolheu apenas parte do indicado por André Moura ( PSC- SE), ficando de fora o indiciamento de José Sérgio Gabrielli, ex- presidente da Petrobras, e João Vaccari Neto, extesoureiro do PT. O parecer de Luiz Sérgio propõe a responsabilização de dez empresas, mas, nesse caso, busca- se a punição de pessoas jurídicas.

O único sub- relator que não teve nenhum indiciamento acatado foi Bruno Covas ( PSDB- SP), que analisou as Sociedades de Propósito Específico ( SPEs) da Petrobras e o caso Gasene. Bruno sugeriu indiciar Dilma, Gabrielli e a ex- presidente da Petrobras Graça Foster. Luiz Sérgio não concordou. O PSDB vai apresentar voto em separado para retomar esse trecho do sub- relatório, além de propor a responsabilização do ex- presidente Lula. Os tucanos dizem ainda que vão indiciar todos os políticos citados.

 

De suspeito de propina a cabo eleitoral

 

CÁSSIO BRUNO

 

Considerado suspeito de ser o intermediário da propina destinada ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), Altair Alves Pinto, de 67 anos, está desaparecido. Ele foi citado na delação do lobista Fernando Baiano. Desde que o caso foi divulgado, Altair não foi mais visto em casa e no trabalho. Ele é funcionário da Assembleia Legislativa do Rio ( Alerj), lotado no gabinete do deputado Fábio Silva ( PMDB), aliado de Cunha, como revelou O GLOBO no sábado.

Ontem, durante sessão na Alerj, O GLOBO tentou entrevistar Fábio Silva. Irritado e evitando falar sobre o assunto, o deputado tentou deixar o plenário, e chegou a segurar o braço do repórter para que não fosse filmado. Após insistência, o parlamentar comentou, sem detalhes, sobre o paradeiro de Altair:

— Ele faz trabalho externo. Está em Cabo Frio, angariando votos. E continuou: — Votos para a campanha. Questionado sobre a qual campanha estava se referindo, Fábio afirmou:

— À minha! Ele ( Altair) arrumou votos para o Eduardo ( Cunha) também. Está fazendo trabalho externo e político, como a maioria dos assessores faz.

Fábio Silva é pré- candidato a prefeito em Seropédica, na Baixada Fluminense, em 2016. As eleições para deputado estadual só serão realizadas em 2018.

Altair está nomeado no gabinete de Fábio Silva, como assessor especial para assuntos parlamentares, desde 2003, com salário líquido mensal de R$ 7,6 mil. Altair foi funcionário de Eduardo Cunha na Alerj quando este era deputado estadual.

Fábio Silva defendeu Cunha e Altair em relação à Lava- Jato, e disse acreditar na inocência dos dois:

— Tem que provar. Uma coisa é a pessoa ser investigada. Outra coisa é a pessoa ser julgada. Há diferença grande.

Na delação, Baiano confirmou que entregou a Cunha entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em espécie, no escritório da presidência da Câmara, no Centro do Rio. O dinheiro seria parte de uma propina de US$ 40 milhões que Júlio Camargo, outro delator, confessou ter pago a Cunha e outros investigados em troca da compra de dois naviossonda pela Petrobras. Baiano disse que entregou o dinheiro, em 2011, a um homem chamado Altair.

Durante três dias, O GLOBO esteve na residência de Altair e não o encontrou. Os porteiros do edifício disseram que ele está viajando com a mulher, sem previsão de retorno. Altair também não foi localizado em seu escritório no mesmo prédio onde fica o gabinete de Cunha, no Rio.

Ontem, a bancada do PSOL na Alerj pediu a abertura de sindicância para apurar possíveis irregularidades na contratação de Altair.