Título: O cabra marcado para cair e o PMDB
Autor: Correia, Karla ; Filizola, Paula
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2011, Política, p. 3

Políticos acreditam na dificuldade do eleitor em decifrar o jogo dos políticos. Avaliam ser mais espertos do que a média da população e, assim, seguem como se nada fosse capaz de deter as artimanhas, das pueris às mais escabrosas. É um erro, evidentemente.

O episódio da demissão de Pedro Novais no Turismo é uma demonstração de que os políticos relevam a capacidade da população em entender e decifrar códigos. Da nomeação à queda do simpático ministro, ninguém deu bola para o eleitor.

Não era novidade que Novais estava marcado para cair ¿ desde antes da nomeação, quando se descobriu o uso de verbas da Câmara dos Deputados para pagar um motel no Maranhão. Novais virou uma figura folclórica. Por culpa exclusiva dele.

Mas nenhuma alma no governo pediu a queda de Novais, pelo menos de peito aberto. O raciocínio era o de que o episódio envolvendo o ministro atingiria apenas ele mesmo. As piadas ficariam restritas ao Turismo ¿ a esculhambação não tomaria a Esplanada.

Malfeitos É fato, as circunstâncias do período de Novais à frente da pasta o deixaram só. Depois do motel, a operação da Polícia Federal e as investidas de repórteres ¿ incluindo os deste Correio ¿ contra os malfeitos da pasta o levaram ao isolamento.

As denúncias não atingiram apenas o Turismo. Outros três ministros caíram por suspeitas de corrupção. O foco na pasta do peemedebista foi e voltou, portanto. Com a queda do antepenúltimo, Wagner Rossi, da Agricultura, Novais ficou na mira principal.

Alianças Até aqui o eleitor tem aplaudido. O problema é que depois dessas quedas ¿ mais precisamente, depois da anterior à de Novais ¿, alguém irá perceber um certo modo de agir dos governistas, amparados na política de alianças. Ao cair um nome, outro, do mesmo partido, entra no lugar.

Foi assim com Wagner Rossi, quando menos de três horas depois da queda do ministro um substituto foi escolhido pelo PMDB. O mesmo ocorreu com Novais. Confirmada a demissão, os peemedebistas voaram para o gabinete do vice-presidente Michel Temer (PMDB).

Escolhas A sala de Temer é no anexo do Palácio do Planalto. Ali, os integrantes do PMDB decidiram em quatro horas o nome do novo titular do Ministério do Turismo, o peemedebista maranhense Gastão Vieira. Saiu um cabra do PMDB do Maranhão, entrou outro cabra do PMDB do Maranhão.

Acreditar que o eleitor não percebe a troca é de uma boçalidade sem tamanho, por mais que Gastão Vieira possa a vir a ter mais qualidades do que Novais para administrar a pasta de Turismo ¿ o que não está comprovado, evidentemente. Assim atuam os políticos.

Regras A política de alianças faz com que a troca de um peemedebista por outro peemedebista, com o aval de outros peemedebistas, seja considerada normal por quem acompanha os movimentos das legendas ¿ incluindo aí jornalistas. Mas nunca será para o eleitor, que até entende as regras do jogo, mas não consegue achar natural a imposição de um partido, ou cacique, na substituição de um ministro.